LADRÃO DE “ARAQUE”

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Robber with a bag and flashlight in hands

Edição n°42

Por Adailton Ferreiira

 

Em torno de tudo, e por tudo, é preciso que haja sempre uma pequena dose de prudência. Em alguns casos, não basta ter somente uma pequena dose, e sim muita prudência, uma grande dose mesmo. Essa prudência precisa ser observada, principalmente, nas horas em que praticamos determinadas brincadeiras. Não se deve brincar por aí, afoitamente, sem antes não medir todas as consequências. É preciso considerar “onde”, “de qual forma” e “com quem se brinca”. Fora isso, a brincadeira pode se tornar coisa muito séria; e em muitas das vezes, uma ação demasiadamente perigosa. Existem momentos em que as reações a uma brincadeira se tornam desinteligentes e intempestivas. Daí não há como procurar outra saída: é segurar o vexame, tentar remediar a brincadeira, ou então (como foi o desfecho deste caso) ser socorrido ao hospital mais próximo. Quando a sorte é bem menor que o azar, o saldo da brincadeira pode ser mais complicado ainda: aí é só “caixão e vela preta”, como diz na gíria, a sabedoria popular. Mas neste caso, o rapaz não foi de todo azarado; conseguiu sobreviver. No entanto, ficou num estado lastimável. A tristeza não deixou de ser sincera, visível, aos que testemunharam. E olha que ninguém ali, era seu parente, ou mantinha com ele um vínculo mais estreito. A única pessoa que o conhecia, dentro do trem, era uma colega de faculdade. A brincadeira de mau gosto se deu, justamente, quando a composição abriu a porta. Ele, ao entrar no vagão, avistou a amiga cochilando no banco. Num repente, puxou a bolsa da estudante e fez um gesto de que iria sair correndo pela plataforma. Não teve tempo de chegar à porta: três homens, que estavam entrando, seguraram-lhe pelo braço. Foi uma eternidade de socos, pontapés e sopapos. Uns seguravam a porta do trem, outros tentavam derrubá-lo aos tapas. A amiga do “Judas” (malhado sem dó), agora já arrastado para fora, tentava explicar tudo; ninguém ouvia as suas palavras. A confusão só teve fim com a chegada de dois vigilantes que faziam ronda. A suposta vítima (sua amiga de sala) explicou tudo, e o tamanho que era aquele equívoco. Finalmente as portas foram fechadas e o trem seguiu viagem. Quem bateu, num átimo, desapareceu do lugar, como gato que foge de chuva. Ficaram somente pessoas que aguardavam para embarcar na plataforma contrária. A viatura do SAMU não demorou a chegar. O rapaz foi socorrido; tinha escoriações por todo o rosto e até nas orelhas. Era boa gente, notava-se. Seu grande erro foi querer brincar de “ladrão de araque” onde não devia. Erro grosseiro. Erro crasso.