O (A) CÚMULO DO EGOÍSMO

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Edição n° 29

Por Adailton Ferreira

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A greve dos motoristas e cobradores de ônibus estava se arrastando para o seu terceiro dia e o caos tomava conta da cidade. Era segunda-feira, o trânsito que dificilmente seguia tranquilo em sua rotina, estava mais ruidoso ainda naqueles dias. As pessoas desciam dos veículos e se punham a caminhar, centenas. Era gente demais, e o número de carros era ainda maior. Se viam taxis, vans, furgões e diversos outros veículos particulares; todos serviam-se como lotação e ajudavam a conduzir a agonia que aumentava hora a hora.

Em uma dessas lotações, a conversa seguia acalorada entre os passageiros:

__Os motoristas ganham bem; eles estão exagerando, querem salário de médico.

__Não, não! Também não é assim; senão eles não fariam horas extras todos os dias.

__É ganância! A prefeitura divulgou os seus salários; está no jornal! Eles ganham bem, não dá pra reclamar, não!

__Também concordo, mas eles são merecedores. Dirigir ônibus numa cidade como Carapicuíba, hoje em dia, é o meio mais rápido para encurtar a vida.

__Não tenho nada contra reivindicações calcadas nos direitos trabalhistas; só considero que o momento não é oportuno. Estamos às vésperas das festas natalinas e a ideia me parece ter um teor apelativo__ arrematou um homem de óculos, terno e gravata; parecia advogado.

__Mas vamos ser justos; esta greve não é por reajuste, não; é pelo salário de setembro, esta é a verdade. Eles não receberam ainda, sabiam?__ observou outro cidadão, um calvo.

__Pelo sim, pelo não, esses três dias caíram do céu para toda a minha família. O peru de natal já está garantido, graças a Deus!__ vangloriou-se o motorista, dono da lotação.

__São todos uns irresponsáveis; isso é o que são! Será que não têm filhos, não têm esposas?! Estou com meu filho em casa, minha nora também, sem poderem ir para o trabalho. Correm até o risco de perder o emprego…__ a senhora idosa, de cabelos grisalhos, enquanto falava, gesticulava afoitamente. O advogado parecia incomodado ao seu lado. Fungava também inquieto e se via, soava horrores.

Todos falavam. Todos opinavam. Injúrias. Clemências. Impropérios.

Uma garota, que até então vinha conversando discretamente com um rapaz no

banco da frente, antes de terminar o percurso, no último ponto, ao descer, arrematou:

__Estou indo fazer uma entrevista numa empresa multinacional, e se Deus quiser, com esta greve, tomara que não apareça mais ninguém para concorrer comigo.