“AÍ SIM!”

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Edição n° 15

Por Adailton Ferreira

ai-sim

Apanhei o ônibus que me deixava em frente à estação de trem, logo cedo. Entrei e sentei-me ao lado de um rapaz. Talvez tivesse dezoito ou vinte anos, era muito jovem. Abri o livro que carregava e voltei a me concentrar na leitura. Era um livro grosso, trezentos e oitenta e cinco páginas. A pergunta veio de modo direto; a voz que soou ao meu lado pedia atenção:

__Que livro grande, moço! Ler tudo isso deve ser embaçado, hem?!…

Ergui a cabeça. Enquanto olhava para o jovem, notei em suas mãos algumas folhas de papel. Eram folhas de currículo; o rapaz as ajeitava dentro de um envelope, e tinha pelo menos umas seis. Respondi-lhe de modo também rápido, natural:

__É, é um livro volumoso, mas devagarinho se chega ao final.

Ele meneou a cabeça, parecia impressionado; continuou de modo ainda mais imperativo:

__Tem é que ter muita paciência!… É zica!… Olha o tamanho disso, meu!__ e mediu a largura do livro com os dedos.

__Está indo ver algum emprego, meu jovem?__ perguntei o que, à primeira vista, parecia óbvio.

__Tô. E é lá no centro. Tenho duas entrevistas numa agência; acho que uma delas trinca!

Ouvindo isso, era inevitável. Tinha que lhe dar algum conselho. Depois de algum tempo, terminei a conversa da seguinte forma:

__ …então observe isso, garoto: evite usar gíria nas suas entrevistas. E sempre que puder, claro, leia um bom livro. Fazendo isso, você vai melhorar em tudo a sua vida.

__Aí sim! Isso é que é um bom conselho.

__Boa sorte, garoto. Capricha__ despedir-me dando-lhe um longo aperto de mão.

De modo que ele respondeu:

__Valeu, é nóis!!