FORRÓ DE PVC

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Edição n° 38

Por Adailton Ferreira

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Estou convencido de que não existe povo mais festivo (porém não sei se mais feliz) do que este nosso povo, o Brasileiro. Que pena que sinto dos quadris dos turistas que buscam uma alegria que reina por esta banda de cá do planeta.

Do samba ao frevo; do xote à gafieira; do pagode ao axé; do bumba-meu-boi ao forró… e de outras danças que compõem uma lista longa: tudo é dolirante, pode assim se dizer __expressão nova que compreende a dor com uma pintada de delírio_ para os gringos, que dificilmente nascem com a cintura apropriada para tanto ritmo.

“Quebra tudo”, é como se diz no meio do frenesi; da coluna cervical aos tendões dos tornozelos. Porém, isso é um problema ortopédico deles; porque no que se refere a nós, gente de ginga fácil e farta, o problema aparece bem ao centro de nossas cabeças, no órgão mais importante que temos, que muitos chamam de corpo craniano, outros de cérebro, outros de “caixa pensante”, e assim por diante…

Nessa primeira década, início do século vinte e um, deparamo-nos, nada mais nada menos, com nove ritmos novos para bailar; isto sem levar em conta as danças tradicionais de cada época, Brasil afora, em regiões afins. “Mas onde minha cabeça entra nisso?”, há de me perguntar algum confrade, um tanto mais sabido, ou talvez mais curioso, porém com a notória preocupação, ante o perigo dos males cefálicos, zeloso pelo bem estar do seu bom juízo. Tá aí, meu jovem conterrâneo (jovem, porque todo brasileiro, no tocante das festas, parece que nunca envelhece); tua cabeça não entra em lugar nenhum, não. Muito pelo contrário: ela jamais sai! Fica balançando, balançando, freneticamente, até que a última música do baile acabe. E em torno disso, sabe o que mais me deixa um tanto preocupado, e também triste, em meio a tanta alegria?… Não, não é a possibilidade (nada impossível) de ter que vir a socorrer algum gringo, desconhecido, após um baile, ao hospital mais próximo, não. E o possível diagnóstico (pasmem!): suspeita de algumas vértebras quebradas. O que mais me entristece é saber que a qualquer momento posso vir a escutar outra conversa, igualzinha mesmo, à que ainda outro dia escutei. E sendo jovens todos os festivos brasileiros, dói ver tantos deles, incontáveis, e não poucos, quase que semi-analfabetos (ainda que exímios dançarinos), correrem dos bancos das escolas, e mais ainda das universidades, como o próprio diabo corre da cruz.

A conversa da qual falo foi desenrolada dentro de um ônibus, entre dois rapazes, onde um falou para o outro, após indicar um painel que estava sendo instalado numa parede, ou melhor, na fachada de um salão.

__Vai ser aí ó… o salão do qual te falei. Parece que vai ser só forró. E está pra inaugurar, tá vendo?