Edição n° 35
__Alô, Gabriel?… Olha, estou ligando aqui do serviço, mas não fala o meu nome não, tá?!… É, Gabriel! Se não as crianças vão querer falar comigo, e eu não posso; estou muito ocupada… Para Gabriel! Não fala meu nome. Por quê? Porque quando elas pegam o telefone, não querem mais largar. E eu não posso. Estou trabalhando… Chama a mãe para mim, Gabriel, mas avisa pra ela não falar meu nome, tá bom?
O irmão deixou o telefone sobre a mesa e foi chamar a mãe na cozinha. Deu o recado dizendo que a irmã queria falar com ela, mas não com as duas meninas. A avó olhou para o filho, indignada. Tirou o avental de cozinha e foi para a sala pegar o aparelho. O menino ainda advertiu mais uma vez: __Não vai falar o nome dela, ouviu?!
__Alô! Que história é essa? Por que você não quer falar com suas filhas?
__Não é isso, mãe. É que estou muito ocupada. O que foi que o Gabriel falou para a senhora, hein?! Aquele moleque me paga!
__Mas o que as crianças têm a ver com isso? Sempre que você liga, você fala com elas.
__Eu sei mãe; mas é que agora estou ocupada.
__Mas são seus filhos, filha! São seus filhos!
__Não fala meu nome, mãe! Pelo amor de Deus, será que a senhora é surda?!
As duas crianças, que brincavam num dos quartos, logo perceberam que era a mãe que estava ao telefone. Engalfinharam-se na saia da avó; tentavam a todo custo pegar o aparelho. A mulher questionava; a filha rebatia:
__Mãe, eu não posso falar com elas, estou muito ocupada. Será que a senhora não entende?
__Tá bom, menina. E o que você quer? Diga filha!
__Ahhh!…
__Desculpa, desculpa!…
__Mãe, a senhora se lembra daquele homem que costuma ficar parado, bem cedinho no ponto de ônibus de frente à padaria? É, aquele que fica paquerando todas as mulheres que passam… Lembra? Pois é, ele voltou a falar algumas gracinhas para mim, mesmo eu tendo fechado a cara para ele. Quando?! Ora, foi hoje de manhã, perto do ponto de ônibus. É, eu sei, ele é um salafrário e cara de pau sem vergonha. Olha, estou comentando isto com a senhora, mas não deixa mais ninguém ficar sabendo disso, tá bom? Do jeito que o Júlio é ciumento, se ficar sabendo, já viu, né?! Falando nisso, ele já chegou do serviço?
__Chegou sim; está na cozinha.
__Então não fala meu nome, ouviu? Do jeito que este teu genro é, vai desandar a fazer perguntas!
__Tá bom, filha!
__Maiêêê!!…