Novos tempos, previsões difíceis.

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Edição n°40

Por Dr. João Luiz Barboza

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Nos últimos tempos, algumas demonstrações da superação do provável pelo improvável têm sido frequentes. Decisões que dependem da maioria seguem na direção oposta àquela que parecia líquida e certa. A complexidade das sociedades atuais demonstra ser cada vez mais difícil prever com margem de segurança razoável o que representa a vontade geral. Institutos especializados veem frustradas as tendências apontadas por suas pesquisas.

Ocorrências recentes permitem supor que as tendências se apresentam cada vez mais difusas, de modo a dificultar expectativas seguras. E isto se verifica mesmo em sociedades com alto grau de maturidade, o que reforça a impressão de fenômeno novo que ainda não foi devidamente assimilado. É possível que isto tenha a ver com as modernas e variadas formas de se comunicar que vêm sendo utilizadas mais intensamente pela geração presente. Fatos recentes fazem supor a existência de certa dificuldade de captação dos resultados que se podem esperar das decisões populares.

O Reino Unido submeteu ao seu povo, em 26 de junho, por meio de um plebiscito que ficou conhecido como Brexit, a decisão sobre sua permanência ou saída da União Europeia. As previsões apontavam para permanência, de forma bastante consistente. Mesmo a comunidade internacional não acreditava no sucesso daqueles que propugnam pela saída. Eis que a maioria decidiu pela saída, frustrando de tal forma as previsões a ponto de ocorrerem várias manifestações de inconformismo e tentativas de reverter a decisão tomada, inclusive por parte de eleitores que votaram pela saída, evidenciando que muitos o fizeram de forma irrefletida.

No último dia 2 de outubro, na Colômbia, ocorreu o plebiscito sobre o acordo de paz promovido entre governo daquele país com as Farc (Forças Revolucionárias da Colômbia). O resultado pelo “sim” era dado como certo, já sendo festejado tanto pelo governo local quanto por outros países que torcem pelo fim dos conflitos, que tanto tormento têm gerado para a sociedade colombiana. Apuradas as urnas, todos foram surpreendidos pelo resultado que deu a vitória ao “não”.

Nos Estados Unidos da América, tidos com a mais consistente democracia, após longa e intensa campanha, ocorreu a eleição presidencial do último dia 8. Pois bem. Apesar das possíveis restrições apontadas contra a candidata Hillary Clinton, raramente se podia ver quem admitisse a vitória de seu adversário Donald Trump, milionário de projeção internacional, mas que nunca teve qualquer experiência política. Ademais, esse candidato teve sua campanha pontuada por manifestações polêmicas em relação às mulheres, às minorias e aos imigrantes, cujo número é consideravelmente grande naquele país.

Porém, no dia 9 de novembro tomava-se conhecimento da eleição de Donald Trump para Presidente dos Estados Unidos da América, frustrando as expectativas do mundo e de maioria dos americanos. Sim, frustrando a maioria dos americanos. Isto porque o sistema eleitoral torna possível a eleição de um candidato pelo colégio eleitoral, ainda que não tenha alcançado a maioria dos votos populares. E isto aconteceu na eleição de Donald Trump, embora não seja a primeira vez, tendo a outra mais recente sido na eleição de George W. Bush, em 2000. Os reflexos da insatisfação com a eleição do futuro presidente americano ficam evidentes nas manifestações contrárias a ele, como vêm acontecendo pelo país.

Se tais ocorrências não demonstram a necessidade de mudanças radicais nas formas de sondagens de intenções, ao menos reclamam prudência ao se subestimarem possibilidades que contrariem expectativas.