setembro de 2018
Por Fabiana Rodovalho Nemet Nº USP: 10 14 10 70
A grande fonte histórica brasileira virou cinzas! O prédio do museu Nacional, por si só, já era histórico, pois foi nele que a Imperatriz Leopoldina assinou o decreto da Independência do Brasil. O museu Nacional era o mais antigo do Brasil; a maior instituição de pesquisa brasileira que detinha o maior acervo a América Latina, um patrimônio fabuloso, o qual se opunha ao estado de conservação do imóvel que o abrigava. O prédio, que tinha mais de 200 anos de história e tesouros insubstituíveis para a história, a cultura e a ciência, já foi a casa de um traficante de escravos e, posteriormente, a residência de Dom João VI, Dom Pedro l e Dom Pedro ll e tinha mais de 20 milhões de itens. Desse total, 17 milhões forma destruídos porque estavam dentro do prédio.
Porém, a falta de manutenção era nítida devido as marcas visíveis em suas paredes. No ano de 2017 jornais chegaram a denunciar a situação do museu em suas matérias, elucidando o descaso do governo diante da necessidade de promover a restauração completa do prédio, a qual havia sido orçada em 100 milhões de reais.
O prédio abrigava múmias e objetos legítimos raros, comprados por Dom Pedro Pedro l e Dom Pedro ll; objetos africanos, tais como o trono do Rei de Daomé, uma das primeiras peças do acervo, presente dado pelo rei Africano ao Dom João VI. Destaca-se ainda uma grande coleção de objetos indígenas. Na parte de arqueologia havia o crânio da mulher mais antiga do Brasil; esqueletos de pterossauros, como a “Preguiça Gigante”. Além disso, havia a parte histórica com valiosíssimos quadros, móveis e objetos que pertenceram à nobreza de Portugal e do Brasil.
Marco brasileiro: descaso com o nossos povo, com a nossa história
Sabemos que este prédio foi cenário de grandes acontecimentos históricos durante o reinado de Dom João VI, bem como na época em que viveram os imperadores, Dom Pedro l e Dom Pedro ll. A princesa Leopoldina, esposa de Dom Pedro l assinou a Declaração de Independência do Brasil no Palácio da Quinta da Boa Vista, no Bairro Imperial de São Cristóvão. O grito do Ipiranga aconteceu somente no 5º dia após a assinatura da declaração.
Mas nem esse histórico foi suficiente para a tomada de providência em relação à devida reforma, necessária há anos. A situação era tão crítica que, desde novembro de 2017 uma das salas mais importantes havia sido interditada pelo próprio museu, a qual abrigava o fóssil Dinoprata, que teve que ser desmontado devido à infestação de cupins em sua base.
Sem verbas para remonta-lo e reabrir a sala, o diretor do museu, Alexander Kellner, resolveu fazer uma “vaquinha online”, arrecadando, na oportunidade, mais de 30 mil reais. Em junho, quando o museu completou 200 anos, foi anunciado um projeto de revitalização com patrocínio do BNDS – mas o socorro chegou tarde demais!
Como pesquisadores e criadores do GEP – Grupo de Estudos e Pesquisa Científica do Jornal Folha Carapicuibana, em representação aos alunos da Universidade de São Paulo, assim como aos demais pesquisadores brasileiros, estamos em luto, indignados com o desapreço e a displicência daqueles que deveriam administrar o povo e seus tesouros, preservando nossa cultura.
Informações de jornalista da editora Abril
De acordo com informações confirmadas ao jornal Folha Carapicuibana por Luciana Lima, da Editora Abril, o próprio ministro da Educação, Rossieli Soares afirmou ser tanto o governo atual como os governos anteriores os grandes responsáveis pelo incêndio desastroso que atingiu o Museu Nacional, no Rio, em São Cristóvão, destruído por um incêndio na noite de domingo (2). Ao conceder entrevistas para as revistas da editora, Soares fez a seguinte afirmação: “A responsabilidade existe, é histórica e entendemos que agora é o momento da reconstrução, com todo mundo, A responsabilidade é do governo federal, é da universidade federal, mas não é exclusiva de agora”.
Soares salientou que, há anos, era postulado o empréstimo para a devida reforma do prédio que abrigava o museu, isto é, desde a época em que se tinha mais recursos. Todavia, mesmo diante das necessidades, os valores solicitados foram liberados pelo BNDES há poucos meses.
Por ora, o ministro não consegue precisar os valores necessários para a reconstrução do prédio de 200 anos, construído em 1818, mas não tem dúvida alguma que ela será uma das maiores prioridades do governo. “A obra é complexa, não é de execução rápida. Não se pode fazer de qualquer jeito. Fala-se em 100 milhões de reais, mas não temos informações técnicas. É fundamental que a gente recupere o máximo possível, aquilo que for possível. A perda é para o Brasil. É insubstituível”, completa.
A reconstrução está prevista para quando?
Tanto Alexander Kellner, diretor do Museu Nacional, bem como o reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Roberto Leher, presumiram, nesta segunda-feira (3) que o governo federal provavelmente liberará recursos e reservará parte do orçamento de 2019 para a reconstituição do museu. Embora a Defesa Civil descarte risco de desabamento, achou por bem solicitar a interdição do local.
Qual é o parecer do administrador do museu?
A Universidade Federal do rio de Janeiro – UFRJ é a responsável pela administração do Museu Nacional, bem como do repasse de verbas públicas da União. Por esta razão o reitor da universidade, Roberto Leher, também evidenciou o valor histórico do local e sobrelevou a urgência na concessão de mais recursos de manutenção.
“É necessário que, de fato, o poder público federal olhe para o Brasil e pense o significado da memória histórica que temos nesse Museu Nacional. Nós precisaremos de recursos importantes para a reinvenção do museu, resgatando sua história e sua memória”, afirmou Leher.
“Precisamos da liberação de um terreno, de uma área contígua ao museu para alocar nossas áreas administrativas e de pesquisa. Temos grupos de pesquisa, aqui nesse museu, memória de povos indígenas, de línguas indígenas, patrimônio da biodiversidade que precisará ser reconstruído”, ressalta.
Leher lamenta os fatos relembrando que o museu tinha o maior acervo da América Latina e, na sequência, pede solidariedade para um momento que definiu como “devastador”. Para ele, a escassez de verbas é uma ameaça real ao trabalho em várias áreas da educação — não apenas no museu. “Precisaríamos fazer um sistema de prevenção de incêndio inteligente, não pode ser apenas baseado em disponibilização de água. Não dispúnhamos e não dispomos de orçamento na UFRJ para fazer intervenções (obras) dessa escala. Sem dinheiro, obviamente, todo o patrimônio público, no geral, nossos laboratórios de pesquisa, (por exemplo), todos correm risco”, completa.
Quais foram as providências imediatas?
Até o momento é impossível adentrar o local, mas uma colega do reitor salvou meteoritos que faziam parte do catálogo. Segundo ele, assim que houver a liberação do Corpo de Bombeiros, seu grupo de voluntários, criado para adentrar o museu, está disposto a salvar o máximo de itens que conseguir.