Edição n° 74
Por Fabiana Rodovalho Nemet Nº USP: 10 14 10 70
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A autora confeccionou o presente artigo nas aulas de “História do Urbanismo Contemporâneo” (AUH 240), na FAU-USP- Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. Professor: Dr. Leandro Medrano
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De acordo com a obra “The Generic City”, do arquiteto holandês Rem Koolhaas, é fato que nas últimas décadas houve mudanças diretamente ligadas à configuração da paisagem territorial, onde, ao constituir o espaço urbano da cidade contemporânea, enfatizou-se, sobretudo, o consumismo com grande relevância. Observe que, na modernidade, a construção surge de forma desenfreada, visto que nunca se construiu tanto como no Século XXI.
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Sendo assim, a infraestrutura caracteriza a história deste novo período com grandes massas devido às construções, porém, as pirâmides é que caracterizam verdadeiramente a história do homem, feita por grandes monumentos. A arquitetura contemporânea não segue um estilo, mas tem dado vida a esse novo espaço urbano, isto é, com a expansão do chamado “espaço lixo” – ou “junkspace”, que se adapta facilmente a uma série de programas arquitetônicos. Para o autor, há um excesso de estímulos – por exemplo, a escada rolante e o ar condicionado -, o que evidencia o fato de que o espaço está sendo construindo com um grande interesse de mercado, estando ele voltado inteiramente ao consumismo das pessoas, cada vez mais. Na verdade, Koolhaas retrata este cenário urbano globalizado, onde, na parte superior, há uma cidade de resíduos, mas, na inferior, regimes ditatoriais ou autoritários. O “espaço” é o principal alvo, o lugar em si.
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De acordo com o autor, para que os centros históricos continuem autênticos; intactos, há a necessidade de reabilita-los, de mexer nesta paisagem, de transforma-la dentro dos novos conceitos, veementes atrativos ao mercado. Porém, há um paradoxo impossível de ser resolvido, já que qualquer transformação, por si só, já faz com que o centro histórico deixe de ser autêntico. Eis a questão.
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Para Koolhaas, a nostalgia de um espaço não se relaciona com as cidades emergentes ou que estão em constante expansão. Em sua obra, a cidade asiática aparece, muito de repente, como modelo de um mundo globalizado, tanto quanto inesperado. Londres não tem identidade, sendo esta a sua maior característica, estando então condenada a se tornar “menos Londres”, cada vez mais. Na ilha de Manhattan, as pessoas necessitam de apoio de infraestruturas para adentrarem a cidade, pagando um determinado valor monetário por isto. Essas pessoas são conhecidas como “gente das pontes e túneis”. Isto se dá graças à insistência da atual obsessão concêntrica, vivendo em uma classe inferior à nossa própria civilização, onde as pessoas vivem privadas de seus próprios direitos. Segundo o autor, viver sempre nesta dependência é uma tensão que não pode ser tolerada, pois o centro vira núcleo de valor, tendo que ser mantido com frequência dentro dos requisitos da modernização.
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A cidade genérica sofreu uma destituição em sua identidade e memória, é a cidade sem referência; libertada daquilo que o autor chama de “espartilho da identidade”. Rompe-se com a dependência. Esta necessidade – que cresceu muito nas últimas décadas tanto em tamanho como em quantidade -, reflete as necessidades do momento; a capacidade.
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O fato, caros leitores da Folha Carapicuibana, é que o passado da cidade genérica é muito pequeno face ao crescimento exponencial dos seres humanos. Desta forma, a arquitetura, no que tange a história, lamentavelmente perde sua identidade. O novo processo é mediático. Neste mundo globalizado, encontram-se inúmeras cidades iguais, ambas genéricas – como Atlanta, muito similares aos aeroportos. Nesses moldes, não haverá história: é o fim da cidade.
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Por esta e outras razões, cita-se como exemplo a Aldeia de Carapicuíba, fundada em 12 de Outubro de 1580, sendo a única das 12 Aldeias fundadas pelo padre Anchieta – que, devido ao difícil acesso, não foi totalmente destruída, portanto, merece ser preservada dentro de um conceito de revitalização. Esta Aldeia, localizada a pouco mais de 20 Km do centro de São Paulo, é um grande patrimônio cultural da cidade, assim como o centro histórico de Santana de Parnaíba, belíssimo em sua essência!
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