Perdemos um grande intérprete do Brasil: o nosso adeus especial ao mestre Antonio Candido, escritor, crítico literário, sociólogo, Professor Emérito da USP e Unesp e doutor honoris causa da Unicamp e UFPE

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Edição n° 65

Por Fabiana Rodovalho Nemet Nº USP: 10 14 10 70 

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Na qualidade de pesquisadores e ensaístas críticos em meio ao jornalismo político na grande São Paulo, nós, editores e profissionais de imprensa do jornal Folha Carapicuibana para Editora FT, bem como profissionais das áreas do Direito, Engenharia e Urbanismo, nos atrevemos a alçar alguns voos e, no âmbito da filantropia para o terceiro setor brasileiro, fomos projetados – pelo próprio trabalho em si – como difusores da cultura e da contracultura em prol da mobilização e da contestação social. No entanto, como escritores de artigos autorais sobre política, engenharia, economia, Direito, sociologia, filosofia, história, arquitetura e urbanismo, nossa equipe de colunistas relaciona diversos pontos da história e da atualidade. Não podemos falar da contemporaneidade com asserção e rigor sem falarmos do passado. Só poderemos interpretar o Brasil com sua estrutura social e política a partir das raízes históricas nacionais.  Aprendemos diariamente com grandes sociólogos e historiadores… com grandes antropólogos e ensaístas brasileiros. Falamos em Gilberto Freire, em Caio Prado Júnior, em Sérgio Buarque de Holanda…

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…e falamos do nosso ilustre professor Antônio Cândido, um dos norteadores de todas as práticas e manifestações dos nossos pensamentos; portador de um refinamento analítico descomunal, considerado o “intérprete do Brasil”. O mestre se foi! Falamos de um crítico literário e sociólogo, formado em ciências sociais, morador há anos do Itaim Bibi e que, assim como os grandes astros da Universidade de São Paulo, tinha uma maneira muito modesta e inteligível de se comunicar – o que é um facilitador para o intelectual, isto é, sem deixar que o “pavão” da intelectualidade predomine sua vida. Poucas pessoas tem essa independência, pelo contrário… Muitas se revelam reféns delas próprias, presas aos grilhões da insatisfação, ora fantasiada de cores e satisfação.

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Contrário a esses, o professor Antônio Cândido não tinha amarras, falava livremente, mas com mera educação e com fulcro no seu berço, também chamado de biblioteca.

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 A propósito, aos 98 anos de idade, o professor nos ensinou que o modernismo cortou as carapaças, descartou uma série de paradigmas e destacou a nossa cultura. Em suas belas palestras na pós-graduação da FELECH-USP, ele nos dizia que as oligarquias no Brasil são fortíssimas e que esse fluxo migratório veio para quebra-las, mas, ao mesmo tempo, pelas perspectivas mais óbvias, acaba não se impondo. Então, sem relativismo ético (já defendia São Tomás de Aquino que, todo homem, capaz de pensar sem limitações patológicas, bem sabe o que é certo e o que é errado, logo, a moral e ética não pode ser relativizada), fico pensando como o professor estaria cogitando tudo o que estamos vivendo; esse “tão novo”, esse tão “revolucionário”…

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O professor Antonio Cândido era casado com a saudosa professora Gilda, a primeira professora de estética da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP -FFLECH, a primeira docente responsável por difundir a cultura e a ciência da Universidade de São Paulo; uma intelectual refinada que simbolizou a faculdade de filosofia.

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Espírito leve; soava positividade na ambiência – como descreve uma das maiores professoras e amiga que tenho na FAU-USP -, trabalhou no sentido de construir um Brasil democrático, visando uma sociedade igualitária; ouvia as pessoas, sabia pelo o que elas se interessavam e “fazia as pessoas fazerem o melhor possível” com aquilo que elas se interessavam…

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Entre suas obras escritas em meados dos anos 40 e 50, indico “A iniciação a literatura brasileira” (PUBLICAÇÕES FFLCH/USP – ISBN: 85.86.087-53-X – São Paulo, 1999), obra que caminha por todos os livros do nosso país… um livreto para ser lido em 40 minutos, com suas belas manifestações literárias, discorrendo mais sobre Clarice e a literatura contemporânea… afinal, o mestre viveu intensamente os séculos XX e o XXI e, para as pessoas que gostam de pensar, isto sim é um verdadeiro banquete; é a forma em que se cria um intelectual – embora poucos se interessem e se interessarão por isto.

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A importância de suas obras na história acadêmica para o país era de tal envergadura que são obras que prevalecem, norteando muitos de nossos valores. Findou-se a carreira, ficam as obras. Destas, as críticas, a dialética e o maior desafio: a construção do nosso tempo; a nossa inquietação.

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Fabiana Rodovalho Nemet – Nº USP: 10141070

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Falecimento

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O professor Antonio Candido faleceu na madrugada do último dia 12, no Hospital Albert Einstein, onde seguia internado há quase 07 dias para tratar de uma obstrução gástrica.  O velório foi realizado no próprio hospital. No final da tarde de sábado, foi realizada uma cerimônia de cremação apenas para a família e os amigos.

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De acordo com o Jornal da USP, a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP informou, por meio de comunicado em seu site, que as aulas foram suspensas na sexta-feira devido ao falecimento do seu Professor Emérito. A Reitoria decretou luto oficial na USP, nos dias 12, 13 e 15 de maio.

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NOTA DO JORNAL USP

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Antonio Candido de Mello e Souza nasceu no Rio de Janeiro, em 1918. Em 1939, ingressou no curso de Direito e de Ciências Sociais e Filosofia, ambos na USP. Ele desistiu do Direito no quinto ano, mas se formou em Ciências Sociais e Filosofia, em 1942, mesmo ano em que iniciou sua carreira universitária na USP, como professor assistente, a convite de Fernando de Azevedo.

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Tornou-se livre-docente de Literatura Brasileira, em 1945, e doutor em Ciências, em 1954, com a tese Os Parceiros do Rio Bonito,  sobre o caipira paulista e sua transformação, publicada em 1964. Em 1974 passou a professor titular de Teoria Literária e Literatura Comparada na então Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências, atual Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, cargo em que se aposentou em 1978. Mas permaneceu ligado à pós-graduação e à orientação de trabalhos acadêmicos.

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O professor estreou como crítico literário ainda na época de universitário, em 1941, na revista Clima, que foi fundada por ele, pelo crítico de teatro Décio de Almeida Prado (1917 – 2000), o crítico de cinema Paulo Emílio Salles Gomes (1916 – 1977), e a ensaísta Gilda de Mello e Souza (1919 – 2005), entre outros.

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Entre suas obras mais influentes e polêmicas em crítica literária está a Formação da Literatura Brasileira, lançada em 1959, na qual estuda os momentos decisivos da formação do sistema literário brasileiro. Antonio Candido foi casado com Gilda de Mello e Souza, professora de Estética na FFLCH, que morreu em 2005.

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Em 2012, Antonio Candido esteve na inauguração da Biblioteca Gilda de Mello e Souza, cujo acervo tem como destaque publicações sobre artes visuais e áreas conexas. Seu núcleo gerador foi formado pela coleção de livros sobre artes pertencentes à professora Gilda, primeira docente de estética da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP e esposa do crítico literário.

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