Edição n° 50
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Na quinta-feira (26), o prefeito de São Paulo, João Doria, anunciou um projeto para viabilizar a pintura de murais de grafite, um espaço como se fosse “museu de arte de rua a céu aberto”. Isso em resposta a vários protestos contra á administração municipal.
A Lei n° 14.223, a Lei da Cidade limpa, consiste em diminuir a poluição visual da cidade e gerir melhor o espaço urbano e permitir ter mobiliário urbano com propagandas, não é de se impressionar que o grande empresário Doria iria gerir a cidade como uma empresa. Entretanto, sua limpeza de piches e retiradas de grafites gerou grande revolta em meio a população mais “underground” e os artistas da “street art”.
A título de exemplo, na quarta-feira (25), a estátua do Apóstolo Paulo, na Praça da Se, foi vandalizada com tinta vermelha. Na quinta-feira (26) a Avenida Paulista amanheceu marcada por diversas cores de tinta no chão. Pichadores deixam vários recados para o prefeito e á vários ocorrendo nas redes sociais contra o chamado “a cidade cinza”.
Em repostas a esses protestos o prefeito de São Paulo, falou que ira abrir um Museu de Arte na Rua, que basicamente, será alguns locais na cidade que será pintado de 3 em 3 meses, por um grupo selecionado de grafiteiros que receberão recursos da prefeitura para fazer suas pinturas. A possibilidade de expor e valorizar a sua arte de forma ampla, livre, porém, sob organização”. Disse Prefeito de São Paulo, João Doria.
O prefeito também disse que a prefeitura ira combater os pichadores. “Nós não vamos admitir a presença de pichadores. Respeitaremos os muralistas e grafiteiros. Se eles pensam que com ataques, com pichações vão inibir a ação do prefeito, ao contrário, a perseverança só aumenta para defender a cidade”
O prefeito tem que entender que ele não pode simplesmente apagar ou riscar da cidade uma categoria artística, pois, a cidade é pluralista e cosmopolita diferente de uma empresa que pode gerir o perfil das pessoas que a compõem. O grafite é uma expressão urbana, uma arte no meio da cidade um museu a céu aberto, proporciona cores e vida a cidade, despertando uma nova dimensão e percepção de profundidade de cidade.
O “Terrain Vague” é uma expressão francesa, criado pelo importantíssimo, arquiteto e Filosofo, Ignasi de Solà-Morales. Vague devira de “vacuus”, o mesmo que “vago” ou “vazio”, levando a “vazio, desocupado”, logo, está “livre”, “disponível”. A claramente uma ausência de uso daquele espaço, ou seja, falta de atividade. Pode se definir como “vazios urbanos”, muito comum em todo meio urbano. Basicamente são locais urbanos abandonados ou sem função social ou marginalizado aos olhos da cidade, local de difícil habitação ou convívio para sociedade. Por exemplo, o centro velho de São Paulo, composto por um rico contexto histórico e cultural que foi abandonado da cidade.
O “terrain vague” da mesma maneira que está privado ou isolado do espaço urbano, abre espaço para ações singulares de artistas contemporâneos, grafiteiros, artistas plásticos, escultores etc., artistas estes que expressam sua arte neste local a fim de enviar uma mensagem, apropriando-se destes espaços como se fossem museus públicos, efetivando suas respostas a essa “não cidade”. Entretanto, essa mesma resposta bate de frente com a arquitetura, a qual procura impor forma, limites, ordem, disseminando o universal e o idêntico. Segundo o entendimento contido no texto, a arquitetura, por sua vez, “traz o baldio em produtivo, o vazio em habitável, como uma mão tirânica da racionalidade prega o igualitário e homogêneo”.
Entretanto, os “vazios urbanos” podem ser mais específicos e pontuais, isto é, de classificação local como uma praça que perdeu sua função de reunir as pessoas para um shopping, um antigo polo industrial que foi abandonando pelas indústrias e sua arquitetura e muitas vezes localização dificulta outro tipo de segmento. O fato que o vazio urbano pode ser mais local e no meio da sociedade, como exemplo em baixo de um viaduto ou dentro de um túnel. Apagar ou privar a cidade como um todo ou delimitar os grafites, é tirar a oportunidade do condutor preso no transito e o cidadão que caminha na calçada de desfrutar de uma oportunidade única e singular de admirar a arte.
O pior privar a população de sua expressão, o que muitos esquecem o marginaliza grafite, teve um papel importante na democracia de nosso país, sendo uma ferramenta de combate a ditadura, ganhando a visibilidade das nações unidas por um povo que clamava por democracia. A cidade de São Paulo confiou a democracia conquistada, ao prefeito João Doria e ela exige que ele saiba encontrar o equilíbrio para o nosso cosmopolitismo.