Por Profa. Fabiana Rodovalho Nemet – Pesquisadora e Jornalista– Nº USP 190665

Jornalista – MTB Nº 0086670-SP

Urbanistas órfãos…

Lá se vai o grande arquiteto e urbanista Mendes da Rocha, deixando seu incrível acervo artístico de trabalho, pelo qual muitos de nós, jovens urbanistas teóricos, nos pautávamos a fim de propor uma revisão no conceito tradicional de desenho aplicado às escolas de arquitetura. Por meio desse processo propomos a busca de novos sentidos para o “fazer projetual”, aumentando as nossas percepções não só para projetos arquitetônicos, mas para qualquer projeto criativo de forma reflexiva, seja em que área for (base que construímos por meio de diversas linhas de estudos com profundidade). Não se tratava de um estudioso da academia/urbanista pesquisador, mas de um profissional de mercado com um legado exemplar no meio; um dos dois únicos brasileiros a receber o Prêmio Pritzker (o outro foi Oscar Niemeyer), o mais importante da arquitetura mundial – o “Prêmio Nobel” da área, como chamamos.

Pertencente à geração de arquitetos modernistas liderada pela nossa estrela nacional da FAU-USP, o brasileiro icônico e imortal Vilanova Artigas (falecido em 1985, líder do movimento arquitetônico conhecido como Escola Paulista), Mendes da Rocha foi autor de inúmeros projetos polêmicos, todavia, marcados pela grande significância no país (fazendo jus ao seu mentor Artigas). Entre suas obras consagradas estão o Museu Brasileiro da Escultura (MuBE), o arco da Praça do Patriarca e o Sesc 24 de Maio e, entre seus grandes projetos de reforma, o Museu da Língua Portuguesa e da Pinacoteca do Estado. No ano passado, o urbanista anunciou a doação de seu acervo artístico à Casa da Arquitectura, em Portugal, o qual é composto por mais de 6300 desenhos e cerca de 3 mil fotografias autorais, eternizadas em nossa história.

Lá se foi com dever cumprido o nome que contribuiu profundamente para a formação da cultura arquitetônica e urbanística brasileira e mundial, como sempre salientou o IAB, a propósito, local onde o Grupo de Estudo e Pesquisa Científica do Jornal Folha Carapicuibana registrou a importância desse acervo para conceituar muitos de nossos artigos a partir de uma compreensão alternativa de sua obra; diante de novos parâmetros no urbanismo.

Nossos profundos sentimentos aos familiares e a nossa grande família urbanista brasileira!

Paulo Mendes da Rocha
Nascimento: 25 de outubro de 1928, Vitória, Espírito Santo
Falecimento: 23 de maio de 2021, São Paulo