Dados da OIT e um Brasil à beira da morte: o maior contingente de desocupados já registrado pela série histórica do IBGE

Por Profa. Fabiana Rodovalho Nemet – Pesquisadora e Jornalista– Nº USP 190665

Jornalista – MTB Nº 0086670-SP

No dia 2 de junho a Organização Internacional do Trabalho (OIT) divulgou um estudo comprovando que, apenas em 2020, mais de 187 milhões de pessoas ficaram desempregadas no mundo. Os cálculos demonstram uma estimativa de que, neste ano, haverá 75 milhões de desempregados por conta da crise econômica abrupta que os países vêm enfrentando – e até o fim de 2022 haverá 205 milhões de desempregados.

Em relação ao ano de 2019, mais 108 milhões de trabalhadores em todo o mundo são agora classificados como pobres ou extremamente pobres, posto que essas famílias estão vivendo com o equivalente a menos de US$ 3,20 por pessoa por dia.

Há uma prioridade para que o país saia deste contexto: antes de mais nada, é necessário retomar o crescimento econômico. Todavia, se os países não controlaram a pandemia de covid-19 não haverá fórmulas mágicas para tal retomada, visto que a

CENÁRIO BRASILEIRO

Desemprego

No Brasil o desemprego subiu para 14,7% no 1º trimestre, atingindo o recorde com 14,8 milhões de brasileiros desempregados, somado a 6 milhões de pessoas “desalentadas” – aquelas que não trabalham por motivos diversos, portanto, não são computadas no número de desempregados. Este é o maior contingente de desocupados já registrado pela série histórica do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE ), diga-se de passagem, fomentada em 2012.

Em uma análise por grupamento de atividade, conclui-se que o setor varejista foi o mais atingido: o comércio sofreu queda de 1,6 milhão de clientes, o que representa perda de 9,4% no setor. O único setor que obteve um pequeno crescimento foi o da agricultura, com 4% a mais de compradores, relativo a 329 mil clientes a mais.

Os reflexos da situação são somáticos, cujo impacto tem devastado a saúde pública, a relação de emprego e a subsistência. Organizações vem fechando suas portas diariamente: neste ano, só a Região de Campinas fechou quase 24 empresas por dia – número computado até o momento. De acordo com os dados da Junta Comercial do Estado de São Paulo (Jucesp), entre janeiro e março deste ano a região registrou o fechamento de 2.145 empresas, apontando 20% a mais frente ao mesmo período do ano passado –  período este de 3 meses que representa um verdadeiro caos, considerando que seus reflexos perdurarão estimativamente até 2025.  O fato é que, segundo aponta o documento da OIT, o crescimento do emprego projetado não se faz suficiente para fechar as lacunas e sanar a problemática que envolve o cenário mundial, o que se estenderá por, pelo menos, mais dois anos.

 “O problema não é só a questão da saúde”

“A recuperação da pandemia de Covid não é apenas um problema de saúde. Os graves danos às economias e sociedades também precisam ser superados”, relata Guy Ryder, diretor geral da OIT.

“Sem um esforço deliberado para acelerar a criação de empregos decentes e apoiar os membros mais vulneráveis da sociedade e a recuperação dos setores econômicos mais afetados, os efeitos da pandemia podem persistir durante anos, com a perda de seres humanos e potencial econômico, e maior pobreza e desigualdade. Precisamos de uma estratégia abrangente e coordenada, baseada em políticas centradas no ser humano e apoiada por ação e financiamento. Não pode haver recuperação real sem a recuperação de empregos decentes”, enfatiza.

A depreciação do real, dentre tantos problemas…

É certo que, atualmente, um dos grandes problemas enfrentados pelos mais apurados é a percepção nítida de que o emprego não é prioridade para o Governo Federal, a propósito, por não aparecer no centro do debate econômico. Infelizmente, o mercado, por si só, não soluciona a questão do desemprego; não basta crescer – como cogita o Presidente da República.

A priori, tem que haver uma política de desenvolvimento com critérios adequados a fim de aumentar consideravelmente a produção e a oferta de empregos, apostando, de maneira prioritária, nos campos que mais necessitam de mão de obra. Entretanto, com o ministro da economia, Paulo Guedes, tudo indica que não é possível esperançar essas medidas para que o país alcance o pleito.

De qualquer forma, durante o sono profundo dos poucos desatinados que ainda restam neste país (a maioria não dorme mais), no início da pandemia nada poderia ser feito diante de situações em que inúmeras investidas para “autogolpe” arruinavam as expectações dos agentes econômicos. Como consequência, aos alienados nada mais restava senão assistir, de camarote, a subida súbita do dólar, dos vales às mais altas cordilheiras. O que esperar deste cenário?

Os fins justificarão os meios.

Outros pontos evidenciados no estudo apresentado pela OIT:

• Em três meses, número de desempregados aumentou em 880 mil pessoas;

• População ocupada (85,7 milhões) ficou estável na comparação com o 4º trimestre, mas nível de ocupação recuou para 48,4%, contra 54,5% em igual trimestre do ano anterior. Ou seja, menos da metade das pessoas em idade de trabalhar estão ocupadas;

• Em 1 ano, houve redução de 6,6 milhões de postos de trabalho no país;

• Somente a categoria dos trabalhadores por conta própria cresceu (um acréscimo de 565 mil em 3 meses);


• Número de empregados com carteira de trabalho assinada ficou estável frente ao trimestre anterior, mas caiu 10,7% (menos 3,5 milhões de pessoas) em 1 ano;

• Número de empregados sem carteira assinada recuou 2,9% em 3 meses (menos 294 mil); Número de empregadores com CNPJ (3,095 milhões) é o menor da série, caindo 13,7% (menos 489 mil pessoas) na comparação anual;

• Informalidade ficou estável (39,6%), com 34 milhões de pessoas;

• Desemprego entre as mulheres atingiu recorde de 17,9%, enquanto que entre os homens a taxa foi de 12,2%;

• Desemprego é mais alto para as pessoas com ensino médio incompleto (24,4%). Para brasileiros com nível superior completo foi de apenas 8,3%;

• Entre os jovens de 18 a 24 anos, a taxa de desemprego (31%) foi bem mais alta do que a média nacional (14,7%).

• Massa de rendimento real ficou estável em R$ 212,5 bilhões ante o trimestre móvel anterior, mas caiu 6,7% na comparação interanual (menos R$ 15,2 bilhões); já o rendimento médio ficou em R$ 2.544, contra R$ 2.566 no 4º trimestre de 2020.