A dissonância entre a vitória das reeleições na região oeste da grande São Paulo e a lição deixada pelo prefeito de Colatina–ES, Sérgio Meneguelli

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Edição Dezembro

Por Engª. Fabiana Rodovalho Nemet –– Nº USP 190665

Jornalista – MTB Nº 0086670-SP

No ano de 2020 – ano de eleições municipais -, muitos agentes políticos cogitaram a possibilidade de eleição de um novo mandato a fim de ocuparem o mesmo cargo que já ocupavam por um mandato consecutivo e renovado. A reeleição é um fenômeno típico da forma de governo republicana e com relevância efetiva naquelas que seguem o sistema presidencialista de governo. Neste ano, as eleições municipais foram marcadas por muitas reeleições no Brasil: dos 5.568 prefeitos no exercício do cargo, 61% disputaram a reeleição, o que representa um montante de 3.383 prefeitos. Isto quer dizer que 23,07% dos gestores municipais preferiram não disputar o pleito, o que corresponde a um número de 1.015 prefeitos. Estre estes, está um dos agentes políticos que mais se destacaram no Brasil – prefeito de Colatina-ES, Sérgio Meneguelli (MDB), que deixou claro não disputar reeleição por não achar honesto como a lei permite atualmente.

Há um consenso de que a atuação de Meneguelli foi inédita no país; excêntrica e extraordinária, afinal, quem nunca visualizou, pelas mídias sociais, inúmeros vídeos do prefeito que, sozinho e com muito bom ânimo, “colocava a mão na massa” em suas folgas, tais como nos fins de semanas e feriados? Além disto, a gestão cumprida foi a melhor, evidenciando o município em local de destaque por uma série de motivos: “Encontrei a cidade endividada; enfrentei a febre amarela – que começou aqui em nossa região. O servidor, que após 08 anos, demos 5% de aumento salarial, insalubridade aos garis, encontrei a prefeitura com frota sucateada; acabamos com a corrupção de alugar: hoje temos 100% – mais de 70 veículos – novinho, comprado com recursos próprios, e caminhamos para chegar a 16ª cidade no Brasil com 100% de esgoto tratado; conseguimos trazer pequenas e grandes empresas, no trilho do desenvolvimento. Em Brasília, ouvi perguntar: ‘onde fica Colatina’ e hoje recebo demonstrações de carinho; as pessoas começam a reconhecer. Não mudei meu DNA, continuei colocando a mão na massa: se não tinha dinheiro, eu ia para a rua. Hoje, todos os bairros têm obras e, enquanto eu poderia estar de folga, estava plantando e ouvindo fofoca”, argumenta o prefeito.
Para a tristeza dos colatinenses e de grande parte dos brasileiros que acompanhavam seu trabalho, Meneguelli manteve a mesma posição que defendeu há 04 anos, ao disputar as eleições, afirmando que não disputaria a reeleição, decisão que evocava questões éticas devido as suas próprias convicções, mostrando então que é um homem de honra por ter cumprido sua palavra. Embora posicionado em 1º lugar nas pesquisas, o prefeito demorou para ponderar sobre aquela velha decisão consciente de não concorrer – diga-se de passagem muito coerente, mantendo sua palavra desde o início. O curioso é que, agora, todas as lideranças estavam dependendo da sua decisão!
Portanto, diante da preferência do povo de Colatina, o gestor ironizou o fato de não ter tido nenhum apoio de partidos e grupos políticos há 05 anos, momento em que havia decidido concorrer as eleições. “Demorei dar a decisão para não influenciar o processo eleitoral e por conta da pandemia. Há 04 anos eu me sentia uma ilha isolada; todos os políticos tentaram me isolar, foi mais difícil ser candidato do que fazer campanha e ganhar. Ironia do destino todas as lideranças dependendo da minha decisão, tive propostas de todos os partidos – até os que fizeram oposição nestes 04 anos”, completa.
Aos fins de semana ou feriados, enquanto o prefeito chegava sozinho nos canteiros das avenidas, carregando materiais e ferramentas para manusear durante o trabalho voluntário que realizava na cidade – tudo isto sem avisar ninguém, chegavam pessoas de outras cidades brasileiras que, por meio de notícias e vídeos amadores que os munícipes faziam e postavam nas mídias sociais, ficavam encantadas e decidiam viajar até Colatina a fim de tirar fotos e pedir autógrafos ao prefeito. Meneguelli afirma que atualmente Colatina está sem dívidas e que todos os servidores estão recebendo em dia, grande progresso alcançado por seus esforços mesmo em estado de pandemia – e que ainda deixará dinheiro para a próxima gestão. “Cumpri meu papel e nunca pensei ‘nas próximas eleições’, mas na próxima geração”, destaca com orgulho.
É certo que sua atuação icônica abarcou muitos pontos importantes para a reflexão de agentes políticos veteranos, bem como “daquelas novas figuras” que, a cada 04 anos, retornam, cogitando a possibilitado de alcançarem o pleito nas eleições com a boa e velha fala articulada, emotiva e persuasiva; reportagens apelativas e ideias utópicas tanto quanto mirabolantes, as quais escondem, nas entrelinhas, o mesmo objetivo tosco de sempre: enriquecer às custas do povo!
A propósito, a redação do jornal Folha Carapicuibana chegou a receber dezenas de mensagens de munícipes pedindo que Sérgio Meneguelli fosse candidato no município da grande São Paulo – fato no mínimo curioso. De qualquer forma, para a satisfação e alívio da maioria do povo na região oeste da grande São Paulo, prevaleceu a “vontade da maioria”. Em Carapicuíba, o prefeito Marcos Neves (PSDB) foi reeleito com 72% dos votos, o que confirma o favoritismo pela sua excelente gestão, refutado por um número inexpressivo, liderado pela oposição. No município vizinho, Barueri, Rubens Furlan (PSDB) foi reeleito com 85% dos votos para sua 6ª gestão, tendo em vista que o grupo tucano lidera a cidade desde 1982. Em Cotia, o prefeito Rogério Franco (PSD) foi reeleito com 49% dos votos. Em Embu das Artes, Ney Santos (Republicanos) foi outro prefeito que conquistou a reeleição, alcançando 48,39% dos votos. Em Itapevi, o prefeito reeleito, Igor Soares (Podemos), recebeu a maior votação proporcional na Grande São Paulo. Com poucos adversários e uma coligação com PT, PSL e PSDB do mesmo lado, Igor obteve 98% dos votos. Em Osasco, o prefeito Rogério Lins (Podemos) foi reeleito com 60,9% dos votos. Já em Santana de Parnaíba, o vereador Marcos Tonho (PSDB) recebeu o apoio do atual prefeito Elvis Cezar (PSDB) e venceu a disputa pela prefeitura com 53% dos votos, da mesma forma que ocorreu em Pirapora do Bom Jesus, que Dani Floresti (PSD), apoiado pelo atual prefeito, Gregório Maglio (MDB), foi eleito com 47% dos votos.
Sem sombra se dúvidas, há uma dissonância clara entre o ideário que moveu as reeleições na grande São Paulo e a lição contraposta em Colatina-ES que, com apenas 96.028 habitantes, sentirá a falta de Sérgio Meneguelli e sua capacidade de governar!