Quando a imoralidade vira regra, a decência corre perigo

Edição n°72

Por Dr. João Luiz

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Desde o ano de 2005, quando houve a denúncia do mensalão descortinando um vasto processo de uso de dinheiro público para viabilizar o conluio entre o Executivo e o Legislativo, ficando este a serviço daquele nas votações congressuais, mediante o pagamento de propinas, o Brasil mergulhou em um mar de lama. A cada dia se veem denúncias de desvio de recursos públicos que poderiam estar sendo canalizados para o combate das mazelas que a sociedade enfrenta em seu dia a dia.

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Já se vai uma dúzia de anos com a corrupção dominando o noticiário. O poder de contaminação dessa imoralidade não pode ser subestimado. É preciso refletir sobre isto para que se perceba os males causados e para que não se deixe anestesiar pela rotineira ocorrência dos malfeitos. Existem fatores que não podem ser desprezados. A construção de uma sociedade justa depende dos valores que são passados às crianças e jovens. E nem elas nem eles têm sido agraciados com bons exemplos.

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Uma criança que em 2005 começava a ser educada aos seis anos, conta hoje com dezoito anos de idade. Sem contar aqueles que naquela época adentravam a adolescência e que ainda não tinham incorporado plenamente os princípios norteadores da adequada convivência social. Neste importante estágio da vida essa nova geração vem testemunhando comportamentos condenáveis de políticos e governantes. Passar princípios de ética e moralidade para jovens dessa faixa etária é tarefa que exige grande esforço, pois a realidade é por demais contrastante.

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Quem enfrenta uma sala de aula composta por jovens tem a perfeita noção do desencantamento com a retidão moral; quando a turma é composta por alunos de idade muito variada percebe-se o grande contraste. São frequentes os questionamentos sobre o sentido de se dedicar ao aprendizado de regras e princípios jurídicos, por exemplo, pois a percepção geral é a de que sua observância não é relevante, principalmente para os detentores do poder. A tarefa árdua, mas que por tudo isso se torna primordial, é procurar convencer os jovens de que não se pode balizar o futuro pelos maus exemplos do presente. A dificuldade está em convencer esta geração de que não se pode permitir à imoralidade se sobrepor à decência.

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