O ócio criativo.

Edição n°61

Por Dr. João Luiz

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Na última edição fizemos referência ao mal do desemprego. O desemprego, como dissemos, é um flagelo para aqueles que dependem de um trabalho e não o consegue. O outro aspecto a ser considerado na atualidade é a característica do trabalho a ser realizado quando se consegue um emprego. Há séculos que o indivíduo não consegue ter a perfeita noção do que está produzindo, pois o foco da produção deixou de ser o produto, voltando-se para o mercado.

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Os bens são produzidos tendo em conta somente as metas a serem alcançadas pelas empresas, quando no passado a atenção estava no gosto e interesse dos compradores, dos consumidores. O desenvolvimento tecnológico contribuiu possibilitando a produção de grande variedade de modelos de um mesmo produto, sendo que antes a possibilidade de diversificação era reduzida. A propaganda contribui criando expectativas nos consumidores. Novos modelos de produtos são apresentados antes mesmo de entrarem na linha de produção criando o desejo de aquisição do que é novo, do que é moderno.

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A sociedade atual é movida pelo desejo de ter, muito mais que o desejo de ser. O artificialismo da vida moderna afasta o indivíduo de valores que já foram mais significativos no passado. Atualmente somos avaliados por aquilo que aparentamos ser, ainda que a aparência seja artificialmente produzida. E neste contexto o trabalho fica relegado a um simples fator de produção, e o empregado a um mero instrumento desse processo.

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No título desta página pegamos por empréstimo o título da obra de Domenico de Masi, em que apresenta, entre suas teorias, as possibilidades de o trabalho ser executado tendo em conta a realização simultânea da dimensão laboral propriamente dita, da dimensão diversionista e da dimensão do aprendizado. Assim, o trabalho ideal teria um conteúdo abrangente de forma a tornar o trabalhador produtivo feliz e ao mesmo tempo é capaz de promover seu aprendizado contínuo. É o que se poderia chamar de situação ideal. Porém, isto está longe de ser o que está ao alcance do trabalhador comum da atualidade.

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O trabalhador desempregado está simplesmente à procura de uma ocupação que lhe permita barganhar a única moeda de troca de que dispõe para conseguir sobreviver, que é a sua força de trabalho. Quanto mais aumenta o desemprego maior o desespero daqueles que necessitam de trabalho, e ao invés do ócio criativo terminam por viver na ociosidade angustiante enquanto se mantêm desocupados na impossibilidade de conseguir os meios indispensáveis para sobrevivência, muito menos para se educar e se divertir.

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