Edição n°59
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No último 31 de março comemorou-se o Dia Nacional da Saúde e Nutrição. É provável que quase ninguém tenha tomado conhecimento da efeméride, o que é lamentável. As datas comemorativas mais lembradas e que despertam real interesse na atualidade são as que incentivam o comércio, na medida em que promovem o consumo. Talvez fosse o caso de se criarem incentivos para a compra de alimentos saudáveis, com o desenvolvimento de campanhas publicitárias visando o aumento de consumo dos mesmos. Infelizmente o oposto é o que se verifica, como o incentivo massivo ao consumo de alimentos e bebidas industrializadas, que geralmente produzem efeitos indesejáveis, como é de conhecimento geral.
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A propaganda tem a grande capacidade de produzir reações antagônicas destinadas aos objetivos consumistas, como incrementar o consumo de alimentos que promovem ganho de peso e, simultaneamente, incentivar os mesmos consumidores à prática de academia, com o objetivo de manterem a forma corporal esquálida ditada pelos discutíveis padrões da beleza atual. Porém, à margem dessas questões vivem pessoas em condições miseráveis, sempre carentes dos alimentos que lhes proporcionem padrões nutricionais mínimos, enquanto abastados desperdiçam nutrientes.
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Na logística da distribuição de alimentos ocorre enorme desperdício. Mesmo na ponta final, quando os estabelecimentos que vendem produtos perecíveis, como supermercados, são frequentemente levados a descartar grande quantidade de frutas e hortaliças ainda considerados próprios para o consumo, mas que pela aparência não podem ser mantidos nas gôndolas, e por impedimentos legais não podem ser disponibilizados para serem consumidos por pessoas carentes. Parece não haver nada mais injusto: pessoas privadas de alimentos que são desperdiçados em condições de matar a fome e amenizar a desnutrição de muitas pessoas.
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Este é apenas um dos exemplos das distorções do consumismo que afeta as sociedades do mundo atual. As principais fontes de riqueza do Brasil se encontram na sua capacidade de produção de alimentos. Entretanto, possibilitar o acesso de todos a uma alimentação saudável ainda é um sério problema a ser superado. Portanto, o Dia Nacional da Saúde e Nutrição não é uma data a ser comemorada, mas sim uma ocasião para que se reflita sobre a urgência de atitudes que possam produzir formas de reduzir as carências sociais, principalmente aquelas para as quais existem soluções.
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