Nossa responsabilidade com os futuros cidadãos

Edição n°51

Por Dr. João Luiz

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O futuro da nossa sociedade depende da mentalidade que se vai formando entre as crianças e os jovens, corroborando a dito popular segundo o qual as crianças são o futuro do Brasil. É certo que assim será, pois a criança de hoje é o adulto do amanhã. Mas é de importância extrema a consciência de nós adultos, jovem ou idoso, de que somos os responsáveis pela formação das nossas crianças.

Esta responsabilidade independe do papel desempenhado por cada um, pois a criança aprende o tempo todo com os pais, os irmãos, os familiares de modo geral e especialmente com os educadores formais. Mas existem também os educadores informais, assim entendidos aqueles que de alguma forma têm a função de transmitir informações ou conhecimentos, sem compromisso propriamente educacional.

O educador formal deve ser preparado para tratar com crianças de maneira apropriada, cuidando de não passar informações ou impressões inadequadas. Com o educador informal nem sempre isto acontece. Muitas vezes, movido pela melhor das intenções, transmite aspectos negativos da sociedade que ainda que guardem algum fundo de verdade, não são adequados para o infante que está com sua mente receptiva a todo tipo de informação, sem que tenha ainda desenvolvida a capacidade de filtrar o que ouve.

Sabemos que em nossa sociedade existem vários exemplos de distorção de caráter, tanto no poder público como fora dele. Porém, não existe qualquer conveniência em evidenciar essas mazelas como se elas fossem parte da normalidade social, principalmente para crianças. E isto muitas vezes acontece de forma tão espontânea que chama à atenção. Neste último final de semana, em um passeio em ponto histórico do interior, presenciei uma dessas situações que me deixou desconcertado.

A pessoa encarregada de fazer a narrativa da evolução histórica de determinados equipamentos para um grupo composto de espectadores de diversas idades, convidou as crianças a se aproximarem para melhor entender a explicação, o que me pareceu um apropriado gesto de sensibilidade e singela delicadeza para com elas. O desagradável veio em seguida. Ao falar de um equipamento restaurado, disse que aquele é um dos poucos que se conseguiu montar com as sobras de peças, pois como se sabe ser normal nessas situações no Brasil, primeiro se rouba tudo que pode para depois poder ser restaurado o que sobrou.

Muito provavelmente aquela pessoa não tem maldade em suas intenções, mas também não tem noção da sua responsabilidade. Apenas fiquei a imaginar a influência que ela exerce sobre o imaginário das tantas crianças que por ali passam a cada final de semana. Passar para as crianças a ideia de que roubar faz parte da normalidade brasileira não contribui para a construção de uma sociedade melhor. Ao contrário, contribui para a continuidade das mazelas que todo cidadão de bem gostaria de ver superadas. A responsabilidade com a formação da cidadania é de todos nós.