O FUTURO INVÓLUCRO DO AMOR

Edição n°50

Por Adailton Ferreiira

Que o mundo virá abaixo no transcorrer dos séculos que se aproximam é uma verdade tão absurda quanto crer que o diabo existe (com chifres, fogo saindo pelas ventas, e tridente ardendo em brasas); agora, que o amor terá seu mais representativo dote racionado pelo látex transparente dos preservativos, isto é coisa que não dá para duvidar, mesmo que muitos não acreditem.

Sensato pode se considerar o ser humano que antes de ir ao encontro da mais bela alma companheira, entra pela primeira porta de farmácia aberta e, sem titubear, pede uma caixa, no mínimo, de práticos e confiáveis preservativos. Esta é a cota mínima do amor; cota esta que vai dividida em três invólucros _03 unidades dentro de uma caixa_ pois tais preservativos estão para a mão, assim como em outros tempos, esteve o cravo para a lapela.

A estes passos caminha o amor, em seu instrumento que muito lhe empresta significado, que é o sexo. “E como tal toca primeiro a carne para depois se acercar do espírito” (palavras corajosas de um também corajoso livro, que por ora não me lembro do título), é preciso que se acredite que a carne, além de fraca, é súdita franca de todas as nossas paixões (descarnadas) de pessoa, de sujeito, de gente. E é sobre ela que vêm recair todas as consequências das estrepolias de nossas almas. A começar pelo quadro socioeconômico (caótico) formado pelos filhos que nascem em hora indevida, até os limiares dos leitos (e ruas) abarrotados de jovens desorientados e viciados, refletindo cada vez mais uma  juventude   em  meio a riscos de doenças e quadros clínicos horrendos.

A população, hoje, aumenta de forma tão descontrolada (isto, que não o digam as mães-menininhas, de quinze a dezessete anos, pois estas não sabem o que vem a ser consequência) que a sociedade, de modo geral, num gesto mais desesperado que estratégico, já que vem falhando no engendro de uma boa educação sexual, devesse aceitar que a partir dos primeiros anos estudantis dos adolescentes, se faça cobrar em cima das carteiras escolares, como lembrete e lição preventiva, nada mais nada menos que um preservativo _01 (um) apenas, cota suficiente para amores juvenis_ além dos materiais didáticos que o aluno tem de ter à sala de aula, é claro.

E se a iniciação sexual de quase todos nós é falha, e todos nós (machos e fêmeas) precisamos de sexo, permito-me afirmar que a proposição deste texto é séria, nem tanto pelas crianças (pequeninas mães e filhas) que habitam becos sem ciência e sem quaisquer recursos, nem instruções seguras para utilizarem anticoncepcionais, mas pelo desespero à consequência (possível) de vir a faltar lugar (terrenos) para ser sepultada tanta gente, que nasce desordenadamente, e que vem morrendo contagiada, literalmente, pelo ato mais voluntarioso que preconiza o amor

Tal preposição se torna mais séria ainda, não só pela grande quantidade de crianças que se vê desprovida das necessidades básicas, mas pelo número de jovens que se descobrem aidéticos (e tantos _que absurdo_ condenados, de imediato, à morte), e o pior, dos que continuam e crescem infectados, expondo o hoje, e principalmente o amanhã, a um penoso tormento.

Mas tudo isso passará, creio; e somente o gosto ao preservativo e a lembrança de que um dia existiu algo assim que as pessoas chamavam de “fazer amor”, talvez permaneçam. E amanhã, eu bem sei disso, _e que Deus, pai de todo cupido, também cuide_ em lugar das três melodiosas e hilariantes palavras EU TE AMO, com certeza, somente da boca mais apaixonada, mais sincera, e muito mais insensata ainda, se ouvirá:

__Com você, meu amor, eu não quero mais usar camisinha!