É tempo de temporais

Edição n°47

Por Dr. João Luiz

É chegado o verão, e com ele a ocorrência de chuvas torrenciais que atormentam aqueles que vivem em áreas de risco de enchentes. É triste observar de forma rotineira nos noticiários desta época do ano a situação de famílias que terminam por perder móveis e utensílios de forma irremediável, além da ocorrência de situações extremas em que muitos perdem a vida. Como sempre, quem mais sofre com as consequências das chuvas são as camadas mais humildes da população que em muitos casos vivem abrigadas precariamente em áreas de ocupação onde há carência de obras básicas de infraestrutura.

Mas também há a possibilidade de se adquirir uma propriedade sem conhecimento de que a área representa riscos de inundação, muitas vezes sendo induzido por preços que costumam atrair incautos. A aquisição de uma propriedade imóvel é sonho acalentado pela grande maioria daqueles que pretendem fixar residência. E quando tal sonho se realiza geralmente traz como acessório um relevante comprometimento financeiro de longo prazo e de difícil quitação. Ademais, quando a pessoa ou família se fixa em uma localidade termina por construir laços de amizades e relacionamentos que passam a fazer parte da sua vida social e dos quais o afastamento é sempre indesejável. Tudo isso representa fatores de apego ao local em que se vive.

Existem recomendações básicas que devem ser observadas quando da aquisição de uma propriedade, principalmente quando se trata do local onde se pretende fixar residência. E neste aspecto os problemas relacionados às chuvas não são os únicos a serem observados. Convém, inclusive, que se façam visitas ao local em horários diferentes e em dias alternados para que possam ser avaliados os comportamentos da vizinhança, trânsito, movimentação noturna, inclusive para verificar se não há condições inadequadas ao repouso, como barulho exagerado etc. Porém, à possibilidade de ocorrência de enchentes deve ser dada maior atenção, e isto é de fácil percepção, pois basta que se observe a configuração geográfica. Muitas vezes o fator preço é tentador, porém não se deve adquirir um imóvel em que estejam presentes problemas com os quais se terá que conviver por longo tempo e de forma irremediável.

Pode ocorrer de não haver alternativa a não ser se submeter a tais situações. Neste caso, alguns cuidados podem ser tomados para minimizar os problemas, o que muitas vezes pode ser feito tomando providências que apresentam custos relativamente baixos, como pequena elevação da construção conforme seja o nível das enchentes. Em locais onde habitualmente ocorrem enchentes, a própria comunidade pode promover campanhas para evitar comportamentos que contribuam para o entupimento de ralos e bueiros.

Evitar descarte inadequado de lixo e despejo de objetos em leitos de córregos e rios ou de cursos naturais de águas pluviais são atitudes simples que podem contribuir para a redução dos transtornos. Claro que não se pode deixar de exigir que o poder público faça sua parte, mas há que se ter em conta que não é difícil perceber quando uma localidade é inadequada à construção de moradias, pois quando não se observam as condições da natureza muito pouco resta a ser feito pela ação humana, restando a incômoda e desagradável consequência de conviver com a situação.