SEMELHANTES COMPLETAMENTE DIFERENTES

Edição n°46

Por Adailton Ferreiira

O aluno perguntou ao professor, de modo direto e objetivo:

__Mestre, por que existe tanta desavença e violência no mundo?

O professor respondeu, sem prestar muita atenção na resposta:

__Em grande parte, meu jovem, a razão maior, é porque as pessoas são seres diferentes. Cada uma tem a sua própria maneira de ver o mundo, e daí cada qual quer fazer valer o seu jeito de pensar, e em muitas das vezes, à base da força ou da coação moral.

__Mas por ser cada pessoa um ser diferente, já a partir de suas impressões digitais, não seria motivo então de pensar que se trata de uma grande espécie de Iguais, e o que apenas os difere são os traços característicos, ou seja, os traços biológicos?

O professor, de ensino médio, prestou um pouco mais de atenção na reflexão que fazia aquele seu ótimo aluno; a aula era de filosofia. O raciocínio do jovem fazia sentido: “indivíduos semelhantes, apesar de diferentes”, pensou. “Assim é a raça humana”.

__Pois é, meu jovem; é isso mesmo: são iguais, mas cada um com suas individualidades, com suas crenças, com suas ideologias e opiniões.

__Então a semelhança deles é apenas no aspecto de desenvolvimento estrutural, físico, externo?__ continuou o prodígio aluno.

__Sim, seria isso, aproximadamente__ ponderou o mestre, entendendo que ao seu pupilo faltava discernir apenas, estritamente, a diferença entre semelhança e igualdade. Continuou:

__Daí porque, voltando à sua pergunta, que a gente vê pessoas homossexuais sendo hostilizadas por algumas pessoas que não são; pessoas de uma determinada religião, mostrando-se intolerantes a outras pessoas, de religiões diferentes; e às vezes, de modo absurdo, existem aquelas que pela própria cor, ou pelos seus traços pessoais, elas pensam que são de uma linhagem especial _ou sei lá, como diz o modismo: de uma “estirpe superior”.

__Nossa! Melhor então, para finalizar, é que chamássemos a eles de semelhantes completamente diferentes?__ resumiu o bom aluno, incessante.

__Chamá-los não; chamarmo-nos, meu filho! Não esqueça de que também somos seres humanos. É, é isso aí, gostei muito de sua definição: “Semelhantes completamente diferentes”. Muito bom, muito bom mesmo.