Morte trágica.

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Edição n°42

Por Dr. João Luiz Barboza

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FOTO oficial da equipe Chapecoense antes de entrar no Avião

 

Existem temas que por mais comuns que sejam, evitá-los é a regra. Assim é com relação a certas doenças e com a morte. De um modo geral, até há pouco tempo as pessoas evitavam pronunciar a palavra câncer para se referir a esse mal que era praticamente uma sentença de morte para quem por ele era acometido. Isto vem mudando, na medida em que a cura para muitas espécies dessa doença vem sendo alcançada.

Com a morte a situação permanece imutável, pois que a sua chegada ainda é inevitável, se é que um dia deixará de ser. Seja como for, a superação da morte é uma aspiração de grande parcela da humanidade. Existe uma frase, atribuída ao moralista francês François de La Rochefoucauld, que diz: “Tememos tudo como mortais, mas desejamos tudo como se fossemos imortais”. É uma grande verdade, pois embora a morte seja certa, vive-se na ânsia da conquista de bens para muito além do necessário para a curta existência humana. É claro que isto tem a ver também com o próprio senso de preservação da vida, mas geralmente tende ao exagero de nunca se satisfazer com o que tem.

Quando se é muito jovem, desfrutando a companhia dos pais e de todos os entes próximos, a despreocupação com a morte é bem maior. Chega-se mesmo a não ter muita ideia do que ela representa. A certeza da finitude vai aparecendo na medida em que a morte se aproxima daqueles a quem se ama. A perda de um pai ou mãe é a mais clara evidência da finitude. A partir daí é que começa realmente a tomada de consciência. Para alguns, tal infortúnio chega cedo; para outros, acontece quando já se atingiu certo grau de maturidade. O curso natural da vida pressupõe os filhos sepultando os pais, e não o contrário.

Há tragédias em que a morte chega de forma tão contundente que comove a todos, ainda que não se tenha qualquer relação de proximidade com as vitimas. Foi o que aconteceu no último dia 29 com a queda da aeronave que transportava a equipe da Associação Chapecoense de Futebol, jornalistas e outros profissionais para Medelín, na Colômbia, onde o time disputaria a primeira partida pela final da Copa Sul-Americana de 2016. Nesse tipo de desastre, a lógica do curso natural da vida deixa de existir. Muitos pais terão de sepultar os filhos. Muitos filhos terão de suportar a dor e conviver com a perda precoce dos seus heróis, com a certeza da finitude chegando mais cedo.

É de se imaginar a angústia por que estão tomados os familiares e amigos das vítimas. Em cidades pequenas e interioranas a comoção é ainda maior. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística-IBGE, o Município de Chapecó, criado em 25 de agosto de 1917, tem população estimada em 209.553 habitantes para 2016. Em 2010 eram 183.530 habitantes. Certamente, os componentes da equipe vitimada pela tragédia representavam mais que orgulho para o desporto da cidade.

O povo chapecoense se vê, agora, envolto pelo mesmo sentimento de tristeza e perda insuperável daqueles atingidos por outras ocorrências trágicas, como a queda do avião da TAM, em São Paulo, em julho de 2007; o incêndio na Boate Kiss, no Rio Grande do Sul, em janeiro de 2013; o rompimento da barragem de Mariana, em Minas Gerais, ocorrida em novembro de 2015, para ficar naquelas mais recentes. Aceitar e superar a perda pela morte como ocorrência natural já é tarefa muito difícil. Quando ela ocorre de forma trágica e coletiva é ainda pior. Nossas condolências, irmãos chapecoenses!