A consciência escoando pela descarga.

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Edição n°41

Por Dr. João Luiz Barboza

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Na região Sudeste já se começa a perceber o início do período das chuvas, o que deve ser um alento para os responsáveis pelos sistemas de abastecimento de água. A abundância de água sempre foi um dos motivos de orgulho do Brasil, não obstante a existência de certas regiões onde a escassez ou mesmo a seca é uma constante. Mas em anos recentes, notadamente 2014 e 2015, a região Sudeste passou por marcante crise hídrica causada pela severa redução do volume chuvas, o que levou a uma preocupante redução do volume dos reservatórios.

Atravessou-se um período em que a população se viu ameaçada de ficar privada de um precioso recurso natural que por muito tempo foi utilizado como se inesgotável fosse. A grande verdade é que muitos tiveram de se submeter a um considerável período de racionamento, muito embora as autoridades tenham evitado a referência a este termo. Não há dúvida de que as piores consequências foram enfrentadas pelas camadas menos favorecidas da sociedade, senão por outros motivos, pela menor capacidade de estocagem para suportar os intervalos de redução no fornecimento.

A crise contribuiu para aumentar o nível de consciência a respeito da necessária racionalização do uso da água. E o período de chuvas que se inicia pode provocar uma falsa sensação de abundância, levando ao descuido com a necessidade de economia, que deve ser permanente. A continuar o aumento de consumo sem que se adotem políticas de conscientização permanentes não estaremos livres de novas crises, mesmo contando com índices pluviométricos normais. Não é necessário ter conhecimento técnico específico para perceber que o constante crescimento dos centros urbanos demanda uma quantidade crescente de recursos, dentre eles a água, cuja racionalidade do uso passa a ser mandamental.

É chegada a hora de questionar determinadas formas de utilização dos recursos naturais e essenciais. Certos usos que se fazem da água chegam a incomodar, pois não resistem à mais elementar reflexão. Regar o jardim ou lavar o quintal com água potável parece irracional. Lavar e “varrer” a calçada com o jato da mangueira d’água é ainda mais intolerável. Mas existem usos ainda mais perversos, e que no dia-a-dia são praticados com a maior naturalidade.

Um determinado mau uso que se faz da água potável é exemplar. A água que se consome nos centros urbanos passa, via de régua, por processo de tratamento para torna-la potável. A água é encaminhada dos reservatórios para as estações de tratamento para depois ser distribuída para consumo da população. É claro que esse tratamento tem um custo, que não é baixo. Pois bem. Quando chega aos pontos de consumo – residências, comércio, escritórios etc. – grande parte dessa água é utilizada simplesmente para conduzir detritos e excrementos para o esgoto. Ou seja, investe-se em tratamento para tornar a água própria para o consumo humano para em seguida utilizá-la com esta finalidade. Não parece ser razoável, muito menos racional. Parece mesmo ser um contrassenso. Não seria o caso de investir em sistemas de reuso da água para esses fins? Vamos esperar que a escassez nos force a tomar providências? A natureza reclama o uso racional da água.