Edição n°35
Em sua Ética a Nicômaco, Aristóteles adverte para a impossibilidade de se manter com muitas pessoas a amizade baseada na virtude e no caráter. De fato. Cultivar a verdadeira amizade exige dedicação tal que inviabiliza sua extensão a muitas pessoas. Principalmente a amizade sincera e desinteressada, que exige da pessoa certa entrega, certa capacidade para ouvir o que desagrada sem retrucar e certa coragem para dizer o que bem entende sem temer o risco de ser mau interpretada.
Aristóteles observa também que a dificuldade para conquistar e cultivar novas amizades cresce na medida em que as pessoas envelhecem, o que também parece incontestável. E para os mais vividos a conservação das amizades tem maior importância que para os jovens, pois a conquista de uma nova requer muita dedicação e tempo, do que aqueles já não dispõem. Afinal, não se constrói uma amizade sem tempo suficiente para uma longa troca de impressões sobre personalidade e caráter, por meio das quais vão se construindo os laços de confiança mútua.
Não se pretende dizer que a amizade não tem importância para os jovens. É que estes estão normalmente envoltos em turbilhões de relacionamentos dos quais irão remanescer poucas e verdadeiras amizades. Terão tempo suficiente para depuração e superação das decepções, para o que os de mais longa vida já não têm a mesma disposição ou disponibilidade. Ademais, a dinâmica das relações sociais incorpora características próprias de seu tempo, que vai se afastando do tempo daqueles que são de outros tempos.
É com o inexorável passar do tempo que os jovens superarão as amizades frustrantes e aprenderão a apreciar as qualidades dos verdadeiros amigos, com os quais poderão dividir seus conflitos internos e deles receberem o conforto. E a única recompensa que esperam é poder sentir a satisfação de que são realmente importantes para alguém que, reciprocamente, é para eles importante. Um verdadeiro amigo não espera mais que apreço.
A verdadeira amizade não convive com a falsidade. A verdadeira amizade não aceita o desrespeito. A verdadeira amizade não impõe condicionante. A verdadeira amizade não se submete à complacência somente para agradar. A verdadeira amizade não expõe o que é particular. Um verdadeiro amigo aconselha. Um verdadeiro amigo conforta. Um verdadeiro amigo adverte. Um verdadeiro amigo esbraveja. Um verdadeiro amigo não se preocupa em ser simpático. Um verdadeiro amigo não explora a amizade. Um verdadeiro amigo está sempre presente, mesmo quando distante. Assim era meu amigo Marcos Hiroshi Machado Osaki, que no último dia doze me foi subtraído pelo implacável destino que está reservado a cada um de nós.