Lições da Parolimpíada

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Edição n°30

Por Dr. João Luiz Barboza

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No último dia 7 de setembro comemorou-se o 194º aniversário da Independência do Brasil. Não resta dúvida que a data enche de orgulho o povo brasileiro. Mas neste ano de 2016 a data marcou o início de outro evento com significado muito especial. Certamente a Parolimpíada tornará o dia 7 de setembro ainda mais importante para a história brasileira. A mesma grandiosidade da abertura da Olimpíada, no dia 5 de agosto último, se fez presente na data inaugural da Parolimpíada. Os jogos parolímpicos criam a oportunidade para que se tome conhecimento da grande capacidade de realização das pessoas com deficiência, que por tanto tempo careceu do devido reconhecimento humano.

O evento é um convite à reflexão sobre a necessidade de se reconhecer que a sociedade e o Estado têm o dever de reduzir as dificuldades e obstáculos para pessoas com deficiência, pois o meio físico e social era (e ainda é) construído para pessoas que não experimentam qualquer dificuldade de interação. A Convenção sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência, documento internacional do qual o Brasil é signatário define, em seu art. 1º, que “Pessoas com deficiência são aquelas que têm impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdades de condições com as demais pessoas”.

Embora o desenvolvimento industrial já se apresentasse como fonte de risco à integridade das pessoas, o mundo passou a ter um novo olhar para as pessoas com deficiência somente a partir das Grandes Guerras mundiais, devido à grande quantidade de mutilados que produziram. Desde então a consciência da capacidade criativa e produtiva das pessoas com deficiência vem progredindo. Tratados internacionais, normas constitucionais e leis infraconstitucionais de diversos países têm se ocupado do tema com o propósito de possibilitar a essas pessoas plena inclusão na vida social e produtiva. Porém, a inclusão somente será conseguida quando a sociedade afastar o preconceito e desenvolver a convicção das competências que podem ser desenvolvidas por pessoas com deficiência. E a Parolimpíada oferece evidências incontestes.

É importante ter em conta que ninguém pode se imaginar livre do risco de vir a adquirir uma deficiência, dadas as sujeições inerentes à vida moderna. Menos provável do que se tornar uma pessoa com deficiência é se tornar um atleta exitoso em uma competição esportiva que exige grande capacidade de adaptação. Assim são as provas que compõem os jogos parolímpicos, pois exigem dos atletas habilidades que não seriam facilmente desenvolvidas, mesmo por pessoas que não estejam qualificadas como “com deficiência”.

A responsabilidade para com a inclusão das pessoas com deficiência recai sobre cada indivíduo, que deve se sensibilizar com a causa. Qualquer pessoa pode simular uma deficiência e sentir as consequências: é fácil simular uma surdez ou uma cegueira, por exemplo. A partir daí, tentar interagir com o meio social e físico para perceber as dificuldades que terá de enfrentar. Na medida em que um se coloca na posição do outro, a compreensão sobre este outro fica facilitada. Se a Olimpíada proporciona grandes e emocionantes espetáculos esportivos, sendo da sua essência o objetivo de promover a paz e amizade entre as nações, com a Parolimpíada não é diferente. Porém esta há de deixar sempre um aprendizado adicional: o esportista com deficiência demonstra que a pessoa humana está acima de qualquer mácula que possa vir a sofrer na sua integridade física, mental, intelectual ou sensorial.