Munícipes fazem teste básico da língua portuguesa e lamentam a péssima base educacional que obtiveram nas escolas municipais e estaduais da cidade de Carapicuíba

Edição nº 29

Por Pablo Nemet

A educação é um direito fundamental, tanto quanto essencial ao ser humano, e há diversos documentos que corroboram com tal afirmação. Apesar de estarmos em pleno século XXI, nos deparando com inúmeras inovações tecnológicas, onde diversos ramos são modernizados, seja econômica ou culturalmente, ainda convivemos com um grande problema que impede o pleno desenvolvimento do nosso país: a falta de investimento na área educacional, gerando a má qualidade da mesma.

De acordo com as pesquisas realizadas pela Unesco, constatou-se que milhões de pessoas ainda não tem acesso à educação: mais de 100 milhões de crianças, das quais 6 milhões são meninas que não tem acesso ao ensino público primário.

Na cidade de Carapicuíba não poderia ser diferente! A educação pública é veemente perplexa: alguns professores sequer sabem falar português corretamente! De acordo com pesquisas minuciosas, embora os alunos saiam das escolas alfabetizados, muitos deles são considerados “analfabetos funcionais”, posto que não sabem, definitivamente, interpretar um texto de 10 linhas, tampouco construí-lo. Entre os erros primários, a maioria desconhece o uso correto dos sinais de pontuação.

O mesmo ocorre com inúmeros “advogados” na cidade – inclusive jovens – e, em especial, com candidatos ao parlamento local, a começar de suas explanações. A título de exemplo, em suas frases há, sobretudo, o emprego de gerundismo; pleonasmo; erros de concordância verbal e nominal; erros de conjunção; emprego incorreto de formas verbais; plural de invariáveis e repetição da negativa (ex.: “…nem tampouco aceitaria os fatos”. A frase está incorreta! A forma correta é: “…nem aceitaria os fatos” ou “…tampouco aceitaria os fatos”, uma vez que “nem” é negativa e “tampouco também é negativa – diferentemente do uso de “nem sequer” ou “sequer”, negativa já dicionarizada em ambas as formas). Por vezes, o fato de se expressar bem faz a pessoa acreditar que está falando corretamente, quando, na realidade, uma coisa não implica em outra.

São erros gramaticais e ortográficos considerados primários, onde o grande vilão do problema se revela na ausência do estímulo à leitura diária durante todos os anos que antecedem o ensino médio. No entanto, como regra geral, tão somente uma ótima base escolar poderá garantir que, no futuro, um estudante universitário e/ou profissional – seja em que área for – possa obter uma boa comunicação verbal, se valendo do emprego correto das palavras e, por conseguinte, uma excelente escrita. Afinal, “falar corretamente” e “se expressar bem” são coisas distintas, mas, ambos, fatores essenciais para o sucesso!

A propósito, no caso de estudantes de nível superior e profissionais já graduados (advogados, consultores, gestores, professores, dentistas etc), eis a principal chave do problema, uma vez que, se equivocar é prática comum – sobretudo diante de uma realidade social como a que se vê na cidade de Carapicuíba – , mas não se interessar pela leitura ao ponto de dissipar tais erros, se torna fato inaceitável.

 

A cidade precisa investir no ensino básico municipal

 

Por ora nota-se que, na cidade de Carapicuíba, jamais houve a tomada de providências por parte do chefe do executivo a fim de sanar este problema – as notas do ENEM são fatos comprobatórios deste fracasso. Em virtude disto, a equipe da Folha Carapicuibana se dirigiu as ruas a fim de questionar os munícipes a despeito da educação propriamente dita, abordando o assunto e realizando testes básicos da língua portuguesa. O resultado foi surpreendente: pessoas cientes de não terem obtido uma boa base educacional nas escolas públicas do Estado e do município, razão pela qual não conseguem adentrar uma faculdade pública devido a concorrência acirrada, formada por um número exacerbado de candidatos preparados para um pequeno número de vagas (40) ou, ainda, um concurso público concorrido – a exemplo do concurso da polícia civil.

Mesmo portando algumas autorizações, devido ao tema abordado a equipe do jornal Folha Carapicuibana, em consenso, optou por não identificar estas pessoas e nem divulgar suas imagens, por mera questão de bom senso.

 

 “Não nego que não sei fazer isto (interpretação de um texto simples de 10 linhas), mas assumo que é um absurdo! Nós pagamos impostos para esse governo e ele nada faz. Pelo menos esses corruptos estão sendo presos”. P.R., vendedor.

 

“Realmente é um absurdo Carapicuíba, a 3ª maior densidade demográfica em SP de acordo com o IBGE, continuar recebendo este tratamento. Está na hora desse lugar prosperar para ser a cidade modelo que deveria ser”.  J.S.S., professora.

 

“Já pela 3ª vez meu filho tentou passar em Comércio Exterior na Fatec e não conseguiu porque o vestibular é muito concorrido e a base dele é muito fraquinha, estudou a vida toda em escola pública sim”. R.S., cabelereira.

 

“Só passa nas faculdades públicas estaduais e federais quem estudou em escolas particulares, é muito difícil alguém de escola pública daqui de Carapicuíba passar se não pagar uns bons anos de um bom cursinho e se não estudar português outra vez, inclusive técnicas de redação. Todos os meus amigos daqui estudam comigo na faculdade particular ali em Alphaville e não é por opção, mas por ser o melhor ao nosso alcance. Meu sonho era estudar Direito na USP.”. J.O. Graduanda em Direito pela UNIP Alphaville

 

“Eu queria muito passar no concurso da polícia civil, todos os meus irmãos se preparam pra passar durante anos, mas são sempre reprovados na primeira prova; é que sempre estudamos em escola pública e aprendemos muito pouco mesmo. Hoje conheço muitas outras pessoas nesta situação, não conseguem passar em concursos da polícia, nem de bancos”. A.M. Atendente

 

“Se investissem pelo menos na educação básica das escolas municipais que já existem, elas seriam concorridas como as escolas de Barueri e o resultado é que ninguém ia querer saber de escola estadual, já que o município iria brilhar na educação. Minha filha faz ensino fundamental em Barueri e sairá de lá só formada. Depois a gente fala de lá, faz as comparações e tem gente aqui que ainda se morde de raiva. Vou fazer o quê se é verdade?”. L.N.B. Estagiária

 

“Meus sobrinhos estudaram na FIEB Dagmar, no centro de Barueri e na FIEB Maria Teodhora, em Alphaville. Um estuda medicina na USP e o outro na UNICAMP, e se vocês forem nessas duas escolas e solicitarem a listagem irão ver que todo ano o número de alunos que passam em faculdades públicas é de se impressionar! Não é novidade que essas duas fundações do município de Barueri sempre lideraram as primeiras colocações entre as escolas do Estado de São Paulo, a maioria das vezes ficando em primeiro lugar. Por que essa prefeitura de Carapicuíba não cria um curso pesado de capacitação para seus professores? Por que ela também não cria uma fundação desse nível com concurso rigoroso para professores verdadeiramente preparados, fixando salários muito acima da média, como em Barueri? Tenho certeza que a maioria dos professores que passarão neste concurso serão de Barueri e da capital. Carapicuíba precisa tomar uma providência urgente!” C.L. Dentista

 

“Moço, eu devo ter errado tudo, né? Nem quero ver isso, faço faculdade mas não tenho o costume de ler muito porque não tenho tempo. Minha escola? Estudei maior parte no Diva. Lá era bem tranquilo, de boa”. R.D.S., atendente de Fast Food e estudante do 2º semestre de Direito.