Edição nº 28
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No início da civilização o homem era sozinho; um animal que tinha a preferência de viver sozinho, mas, ao poucos, conflitos começaram e o homem percebeu que a vida em sociedade era melhor – já que uns protegiam aos outros. Assim nasceu a sociedade, e chegou um momento em que o homem abdicou de sua “liberdade” natural para que outros tomassem as decisões em troca de segurança. Desta forma, foi criado o “contrato social”. O homem abdicou de seu estado de natureza para viver submetido às leis que dizem o que se pode ou não fazer, criando assim a ideia de segurança a partir da lei. Hoje em dia a sociedade continua vivendo sob um estado de Direito; se submetendo às leis, todavia, um dos direitos básicos – que praticamente levaram a sociedade a existir – tem sido negado aos cidadãos.
Em Carapicuíba, o cidadão de bem vive praticamente sem direitos, como educação de qualidade, saúde pública e, sobretudo, segurança. O direito a segurança não quer dizer o fim de todos os conflitos, ameaças e violência, mas sim a existência de instituições confiáveis e que busquem prevenir, de maneira eficiente, tais episódios, agindo de maneira equilibrada e justa quando algo acontece. A falta de segurança fere os direitos constitucionais. Todo cidadão tem o direito de ir e vir pelo artigo 5º inciso XV, mas como um cidadão de bem poderá ir e vir quando não se tem segurança? A resposta mais sensata e óbvia é: não pode!
Na aldeia de Carapicuíba pessoas têm sido assaltadas constantemente e, algumas, são vítimas de latrocínio – roubo seguido de morte -, o que fez com que os leitores da Folha Carapicuibana questionassem: “qual é o valor da vida? A vida de uma pessoa vale um celular do ano, uma bolsa, uma motocicileta ou um carro?” A vida não tem preço!
É por esta razão que os cidadãos imploram por segurança. A propósito, são dezenas e mais dezenas de e-mails – a maioria deles, anônimos e com pseudônimos – enviados à Folha Carapicuibana, solicitando ao jornal um “Forum de discussão” para que a coluna acrescente, a cada matéria editada, as colocações dos munícipes, mais precisamente nos moldes de uma reunião. Deste movimento, tem nascido, ainda que hipoteticamente, uma espécie de “encontro diário” entre o jornal e o cidadão carapicuibano no tocante de uma troca de comunicações, tendo, como mérito das discussões, as necessidades básicas da coletividade.
Conforme externado por estes leitores, em especial, a situação na Aldeia de Carapicuíba tem sido apavorante. Alguns já se acostumaram a viver nas incertezas decorrentes da vida neste lugar: não sabem se chegarão vivos no trabalho e, da mesma forma, em suas casas. As pessoas vivenciam a dor intensa ao ponto de eclipsar todas as outras experiências, de repente, a única experiência à qual são incapazes de dar forma adequada a esta exposição pública. Por mais que a Folha Carapicuibana receba estes e-mails e reporte a situação de forma objetiva, lutando pelo povo carapicuibano, apenas quem vivencia os fatos é capaz de mensurar o tamanho da dor que é viver à mercê de um governo fraudulento, no sentido de ligar a subjetividade mais radical ao mundo exterior da vida, por exemplo, vendo seus filhos expostos a toda sorte de violência, no campo físico e emocional.
A teoria tem sido emblemática, diga-se de passagem, muito utilizada pelos candidatos ao parlamento local. Ora, a questão da segurança não pode ser tratada como paradigma, tampouco como mera publicidade de candidatos. A segurança é um direito do povo e, como qualquer outro direito, jamais poderá ser retirado. No ápice deste movimento, nascido pelo seio da Folha Carapicuibana por conta da confiabilidade de seus leitores, a coluna S.O.S. Prefeito segue cobrando intensamente pelos direitos da coletividade, afinal, os políticos estão subordinados aos cidadãos e não ao contrário.
“Outro dia eu estava no ponto de ônibus e vi um homem vir de bicicleta e dar um chute muito forte no estômago da moça que esperava o ônibus ao meu lado, além de puxar sua bolsa. Ela caiu e nem conseguia se levantar, tão forte era a dor”. Lúcia Silveira, manicure e esteticista.
“Eles estão assaltando o dia inteiro com canivetes e facas, adoram os pontos de ônibus, mas pegam também as pessoas que caminham a pé, indo ou voltando do trabalho. Meu pai é sempre assaltado”. P.R.S., estudante.
“Ao sair de casa para buscar o filho na escola, minha tia foi assaltada de forma violenta, teve seu celular roubado e ainda levou uma facada profunda no ombro, tendo até que tomar ponto. Por pouco não pegou no pescoço”. T.P., vendedora
“Por favor, a gente implora pela segurança, não dá mais pra sair de casa nesse bairro não, nem no centro da cidade porque também fui assaltada numa travessa da Rui Barbosa na semana passada”. M. S. D., dona de casa.
“Eu moro na Vila Menck e tive que trancar a faculdade lá na Aldeia porque cansei de ser assaltado. Mesmo de carro, alguns bandidos de moto me interceptavam pelo caminho. Será que ninguém fará nada???” L.S., Estudante universitário e consultor de vendas.
“O rapaz me passou um canivete no braço, eu só tinha R$10,00 na carteira, mas de qualquer jeito ele queria era me golpear primeiro porque veio por trás de mim e disse ainda que seu gritasse voltaria pra me matar. Lá se foram meus documentos”. Rosa Maria, auxiliar de lavanderia.
“Sou vizinho ao bar da dona Jandira Barnabé desde criança, aqui ao lado da Granja Vianna… E no início deste ano, numa triste manhã de quarta-feira um jovem ladrão anunciou um assalto neste comércio, matando a nossa querida dona Jandira aos 74 anos de idade, friamente, desferindo muitas facadas sob ela. O bandido roubou R$30,00 do bar e foi preso, mas depois disso começou uma onda de assaltos em todos os lugares. De que adianta fazer justiça mas deixar acontecer o pior? Pra começar, tem que ter uma política de prevenção com ronda ostensiva pelas ruas da cidade, 24h por dia. A polícia tem que pegar pesado com qualquer suspeito. O prefeito tem que dar esse poder à guarda municipal, como ocorre em Barueri há anos e tem dado muito certo”. J.P., Encarregado de segurança privada e estudante universitário.
“Eu não vou falar o que vi acontecer com a uma pessoa muito querida porque não consigo, ainda não venci esse trauma. Mas queria fazer umas perguntas aos governantes de Carapicuíba: a vida dos senhores vale o carro que trabalharam e compraram? Vale um celular novo? Quanto vale a vida de um cidadão? Será que um dia os senhores também saberão o valor da vida?”
Márcia de Oliveira, empreendedora individual.