Edição n°28
É sabido que o medo tem seu lado positivo, na medida em que pode contribuir para um prudente distanciamento de perigos iminentes. Em contra partida, o alarmismo pode causar afastamentos e privações desnecessárias. Os riscos fazem parte da vida moderna, e não se pode estar completamente seguro, onde quer que seja. Tudo leva a crer que, no passado, as pessoas eram mais destemidas que na atualidade, não obstante a maior segurança que a ciência moderna proporciona. Basta imaginar as aventuras que representavam as viagens além-mar empreendidas pelos navegantes.
A Olimpíada do Rio de Janeiro foi precedida por diversas previsões pessimistas e amedrontadoras. Às vésperas do evento, o Brasil aparecia no noticiário internacional como local que oferecia sérios riscos para os atletas e turistas, com a possibilidade de serem contaminados com o Zika Vírus. Houve até iniciativas de especialistas junto à Organização Mundial de Saúde propondo o adiamento do evento por conta do suposto risco, conforme amplamente noticiado pela imprensa.
É muito provável que torcedores e atletas tenham deixado de comparecer à Olimpíada por conta do receio de serem contaminados pelo vírus. Não se pode negar que o receio também esteve, ou está, presente entre a população brasileira. Além do Zika Vírus, havia o receio pela criminalidade que tanto prejudica a imagem da Cidade Maravilhosa, aliado ao pânico que recentes atos terroristas têm espalhado pelo mundo.
A Olimpíada se encerrou com muitas boas notícias que contrariam aquelas previsões e que repercutem dados positivos. Merece destaque a alta qualidade dos shows de abertura e de encerramento. Fazendo um balanço do período, o prefeito do Rio de Janeiro afirmou terem sido feitos 8.681 atendimentos pelo serviço de saúde, incluindo 2.133 turistas estrangeiros, sendo que nenhum estava relacionado ao Zika Vírus. Em relação à criminalidade, alguns incidentes ocorreram, porém parece não ter ficado evidente relação direta de qualquer caso específico com o evento esportivo. Quanto à natural preocupação com a possibilidade da ocorrência de atos terroristas, felizmente tudo transcorreu em paz.
Este quadro contribui para a evidência de que se deve buscar a superação de impressões negativas provocadas por previsões pessimistas e generalizadas que possam impedir a realização de objetivos ou sonhos. Ademais, não se pode fugir completamente dos riscos que são inerentes à condição natural da vida. Assim como as privações embasadas em simples previsões pessimistas não garantem o afastamento de riscos, também a sensação de segurança muitas vezes se prova insuficiente para afastá-los, pois existem ocorrências sobre as quais não se pode ter qualquer controle.
Desastres naturais como o terremoto que vitimou os italianos na última quarta-feira, dia 24, ceifando muitas vidas e causando sofrimento para tantos, dão conta da fragilidade que é inerente a todos. Certamente ninguém que se encontrava na área atingida esperava por tamanha tragédia. Portanto, a consciência de que os riscos podem estar presentes mesmo onde não são esperados deve contribuir para amenizar preocupações que impedem o curso natural da vida. É claro que ser previdente é um dever, mas deve-se também exercitar e manter a virtude da moderação em todas as atitudes e sentimentos, inclusive na coragem e no medo.