Mais tolerância, menos preconceito.

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Edição n°23

Por Dr. João Luiz Barboza

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Faz parte da convivência social a emergência de convenções e valores que vão se desenvolvendo com o passar do tempo. Tais convenções e valores são incorporados na forma individual e coletiva de ver o mundo, influindo na percepção que se desenvolve sobre pessoas, grupos, comportamentos ou situações sobre os quais vão se formando os conceitos. Esses conceitos tendem a ficar incorporados de tal forma ao ideário individual e coletivo que passarão a exercer inevitável influência sobre juízos ou percepções que venham a ser externados. Quando o juízo ou percepção sobre uma pessoa ou grupo se presta a qualquer forma de discriminação fica caracterizado o que se refere como preconceito.

Numa acepção sociológica, o vocábulo preconceito é entendido como “atitude emocionalmente condicionada, baseada em crença, opinião ou generalização, determinando simpatia ou antipatia para com indivíduos ou grupos” (dicionário Michaelis). Por esta acepção, o preconceito é motivado por um conceito positivo ou negativo previamente formado. A isto equivale dizer que pode haver preconceito que se mostra favorável, ou positivo. Porém não deixa de ser preconceito. Ocorre que o preconceito positivo, por ter conotação de elogio, é bem aceito por aquele ou aquela a quem é dirigido. Neste sentido, parece que o próprio vocábulo preconceito é marcado por certo grau de preconceito, pois dificilmente se o associa ao um sentido positivo, mesmo quando este se mostra evidente.

Exemplos de conceitos positivos previamente formados podem deixar mais evidente a aparente contradição. O preconceito positivo está presente, por exemplo, quando se diz que os idosos são dotados de sabedoria, quando se diz que os asiáticos são mais hábeis com as ciências exatas etc. Um dos problemas do preconceito, negativo ou positivo, é que ele tende a generalizar, sem considerar as possíveis exceções. Também pode estigmatizar pessoas com julgamentos precipitados. O que se deve ter em conta é que nenhum juízo de valor tem o condão de oferecer verdades absolutas. Isto basta para que se procure desenvolver a prudência ao emitir opinião ou juízo com base em valores preconceituosos. Neste sentido, é sempre bom lembrar a recomendação atribuída a Rui Barbosa: “Não se deixem enganar pelos cabelos brancos, pois os canalhas também envelhecem”.

Nestes tempos em que a dignidade da pessoa humana e o respeito aos direitos e às diferenças individuais estão em evidência é importante que se desenvolva a capacidade de tolerância e que se evitem quaisquer discriminações, positivas ou negativas, fundamentadas em ideias ou valores preconcebidos. O art. 3º, inciso IV, da Constituição Federal, traz como um dos objetivos fundamentais da República brasileira “promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”. Ademais, o atual nível de globalização encurta distâncias e aproxima pessoas de diferentes nações. Isto requer de todos, brasileiros e estrangeiros, alto grau de tolerância e respeito às diferenças, que se não observados com a devida atenção pode levar a discriminações, que mesmo se involuntárias não são desculpáveis. Cabe a cada um fazer a sua parte.