Terrorismo, ato bárbaro e imprevisível.

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Edição n°22

Por Dr. João Luiz Barboza

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Certos acontecimentos se transformam em referências históricas pelo que passam a representam para a humanidade. A Revolução Francesa é um deles, e tem como marco a tomada da Bastilha, em 14 de julho de 1789, pelo movimento social que lutava pela queda do poder absoluto francês. A Bastilha era uma fortaleza construída no século XIV que servia como prisão. Na época da invasão continha considerável arsenal de armas em seus depósitos. Consta que na ocasião não havia mais que sete presos em seu interior. A tomada e incêndio da fortaleza teve dupla importância: a de destruição de um símbolo do poder absoluto e o suprimento de armas para os revolucionários. Como se sabe, a Revolução Francesa teve como bandeira a defesa da liberdade, da igualdade e da fraternidade.

Essa Revolução foi o embrião do constitucionalismo moderno e, portanto, dos direitos que passaram a ser garantidos a cada indivíduo nas constituições dos Estados democráticos. Claro que outros movimentos ocorreram na busca da garantia de tais direitos, como o da independência das colônias britânicas, que formaram os Estados Unidos da América, proclamada em 4 de julho de 1776. Assim como o dia 4 de julho, para os estadunidenses, o dia 14 de julho é muito comemorado na França, com grande carga de simbolismo, não somente para os franceses, mas para todos que valorizam e têm algum conhecimento sobre a história das liberdades públicas e dos direitos fundamentais.

Pois bem! Exatamente no último dia 14 de julho, enquanto comemorava evento de tal importância histórica a França sofreu mais um dos ataques terroristas de que tem sido vítima ultimamente. Nesta época do ano é verão na Europa, e os europeus procuram aproveitá-lo de forma muito mais intensa do que se observa em países tropicais. Em Nice, cidade litorânea do sul da França, na noite do último dia 14, acontecia uma queima de fogos em comemoração à data. Ao volante de um pesado caminhão alugado, um indivíduo avançou contra a multidão por dois quilômetros, deixando um rastro de oitenta e quatro mortos e cerca de cinquenta feridos. O número de mortos pode aumentar já que muitas pessoas permanecem internadas em estado grave. O terrorista foi morto em confronto com a polícia. No interior do veículo foram encontradas várias armas e munições.

Como já se apontou neste espaço (25/04), o terrorismo se aproveita da confiança natural que todo ser humano deposita nas pessoas, nas instituições e na própria natureza, para surpreender e gerar o terror. Os ataques terroristas ocorrem da forma mais covarde de que pode ser capaz um grupo organizado para esse fim ou indivíduos que agem isoladamente, os chamados lobos solitários. Estes últimos são os que oferecem maior desafio para os órgãos de segurança. E ao que parece, o ataque ocorrido na cidade de Nice foi impetrado por um deles.

Ocorrências dessa natureza têm sido cada vez mais frequentes desde os choques propositais de aviões contra as chamadas torres gêmeas do World Trade Center, na cidade de Nova Iorque, em 11 de setembro de 2001, causando a morte de milhares de pessoas. O mais assustador é que ninguém está livre de ser vitima de um ataque dessa natureza. A crueldade de tais ataques assusta ainda mais pela imprevisibilidade. Neste aspecto, superam o que se poderia esperar de uma situação de guerra, pois atualmente existem tratados internacionais que disciplinam a forma como os Estados devem se comportar em eventuais e inevitáveis conflitos bélicos. Um dos objetivos é exatamente preservar a vida de civis inocentes, que, aparentemente, são os alvos preferenciais dos terroristas. A perversidade do terror não admite tratativas. Será sempre um tormento e uma ameaça a inocentes.