Edição n° 21
__Perdeu, tiozão, passa o feijão!
A ordem foi repetida de forma enérgica e ameaçadora. O senhor de setenta e cinco anos titubeou, mas não relutou. Entregou para o moleque as três sacolas que tinham algumas compras. A mulher ao seu lado, senhora que parecia sustentar também a mesma idade, ficou paralisada. Só conseguiu apertar a mão do marido que ela segurava. Haviam saído do hipermercado, o relógio marcava somente três horas da tarde, e ao se verem abordados daquela forma, era algo completamente imaginável. Os moleques eram dois, cada um estava montado numa bicicleta. Quando fizeram a abordagem, o casal achou que era brincadeira de “pivetes”. Perguntaram primeiro pelas horas, depois quiseram saber se os velhinhos podiam lhes dar algum trocado. O marido quis levar a mão ao bolso, mas a mulher apertou-lhe o braço, reprimindo-o. Foi quando um deles desceu da bike e puxou um pequeno canivete. O casal ficou boquiaberto. O moleque avançou já com a mão no bolso do idoso. O que ficou montado, deu a ordem para o outro:
__Vê o que tem também nas sacolas, Pitonho. Vamos levar elas também!
O velho não se conformou. A indignação subiu-lhe aos olhos. Segurou as sacolas e implicou com o pequeno ladrão:
__Aqui só tem arroz e feijão, meu filho! Você já não pegou o trocado que eu tinha no bolso?
O pivete mandão não teve dúvidas; indicou para o outro, como se tivesse farejado algo muito valioso.
__Pois pega o feijão, Pitonho! O quilo tá valendo ouro. Vai, Pitonho, pega!
Foi quando o moleque ordenou:
__Passa o feijão, tiozão. Perdeu!