Imagine

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Edição n°19

Por Dr. João Luiz Barboza

imagine

A canção Imagine, gravada em 1971 por John Lennon, dá título a este artigo. A coincidência da grafia e significado de uma palavra em inglês e em português não é muito comum. A canção é um verdadeiro hino à paz, além de expressar o sonho desse saudoso artista com um mundo melhor, mais justo, sem fronteiras, sem fome, sem desigualdades, e acolhedor. John Lennon fizera parte da banda “The Beatles”, da cidade de Liverpool, Inglaterra, onde nascera.

Não há como não se sensibilizar com a letra da canção ao imaginar como poderia ser um mundo sem fronteiras e com todas as pessoas se respeitando e se ajudando mutuamente, de forma a não se permitir qualquer tipo de desigualdade. Aparentemente, este é um desejo que está na base do pensamento da maioria das pessoas. Porém, apenas aparentemente.

Muitos blocos regionais têm sido criados para a unificação de interesses econômicos e políticos de Estados internacionais, o que leva a crer que a humanidade tende a uma aproximação de todos os povos, ainda que a formação de uma nação mundialmente unificada permaneça no campo onírico. A União Europeia constitui o bloco mais promissor que caminha nessa direção. Esse bloco tem sua origem embrionária em 1950, com a criação da então Comunidade Europeia do Carvão e do Aço – CECA, que aos poucos foi evoluindo.

Ironicamente, o Reino Unido, do qual faz parte a Inglaterra, pátria mãe do autor de Imagine, ingressou na União Europeia em 1972, portanto, um ano depois de gravada a canção. É provável que o ingresso da Inglaterra no bloco tenha proporcionado a John Lennon, durante seus últimos oito anos de vida (ele foi vítima de assassinato, em 1980) a esperança de que seu sonho estava a caminho de se tornar realidade, ainda que em um futuro distante. Se estivesse vivo certamente, hoje, estaria desiludido.

No último dia 23, por meio de plebiscito, o povo do Reino Unido decidiu pela saída da União Europeia. A decisão foi tomada por maioria estreita (51,9% a 48,1%). A apreensão com a livre entrada de trabalhadores de outros países do bloco e o aumento do movimento imigratório decorrente, principalmente, dos problemas na Síria são fatores que contribuíram decisivamente. O resultado da votação teve reflexos imediatos nas bolsas de valores de vários países, numa demonstração de que o mundo não vê a decisão como um sinal positivo. Os reflexos negativos na bolsa de valores e na moeda britânicas foram dos mais significativos.

O resultado final demonstra que os próprios britânicos foram às urnas divididos. No dia seguinte ao plebiscito, alguns já manifestavam arrependimento por ter votado pela saída. Não deixa de ser uma decisão que causa certo desalento a todos que sonham com um mundo em que as diferenças sejam diminuídas e as distancias estreitadas. Qualquer pessoa que tenha circulado pela União Europeia percebe as vantagens que têm os cidadãos do bloco. Para os turistas que lá ingressam, o trânsito entre os países também fica muito facilitado. A saída do Reino Unido da União Europeia não deve ser muito festejada, a não ser por aqueles que tenham convictamente participado da decisão vitoriosa.