“XANDOVAL”

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Edição n° 18

Por Adailton Ferreira

 

xandoval

Problema histórico essa recorrência de algumas pessoas terem o nome trocado, ou alterado, no momento em que são lavrados seus registros de nascimento. É fato que se dá, na sua grande maioria, em regiões precárias do Brasil. Na maioria dos casos, cidadezinhas distantes dos grandes centros. É algo parecido como um toma lá dá cá, e entre as partes não se ouve mais do que uma dúzia de sílabas. Os pais ditam os nomes, o escrevente preenche a certidão numa pressa de serviço que parece pra anteontem.

A culpa é menos dos pais do que dessa gente toda dos cartórios. Basta observar o modo como são efetuados alguns registros de nascimento, nessas paragens, para entender por que ocorrem esses equívocos. Certamente, trata-se de uma grande falha naquilo que chamamos de “Aparelho da Comunicação”: EMISSOR + MENSAGEM + RECEPTOR. Em alguns casos, o funcionário pede para o genitor escrever o nome, e aí a sorte fica para a forma como o responsável pela criança consegue se expressar. Como foi dito, a pressa de quem atende parece que vem de anteontem. A linguística, como ciência interminavelmente tolerante que é, preza também por toda comunicação na qual a escrita venha a sair propriamente como se fala. Em muitos casos, creio que devia haver um pouco mais de paciência por parte do receptor. Os pais não sabem nada de linguística, e nesses momentos estão extasiados e em plena comemoração pela chegada de seus rebentos. Se tivéssemos um pouco mais de paciência nesses momentos, não teríamos “Ualas” em vez de “Wallace”, “Uilço” em vez de “Wilson”, e outros casos mais, de tal natureza. Claro que o nome com o qual cada um é batizado, passa a ser uma riqueza íntima, fomentada de orgulho próprio. Contudo, que cada nome seja escolhido de modo facultativo, e não concebido por esses erros.

Mas história estranhíssima mesmo foi a de um rapaz que conheci de apelido “Xandô”. Pensei até que fosse apelido inspirado numa determinada marca de leite industrializado. Entretanto, não era; foi um erro grosseiro do funcionário do cartório ao digitar o nome do rapaz. O pai escreveu no papel “Sandoval”, e o escrevente registrou “Xandoval”, trocando o S pelo X. Na hora, entre vivas e felicitações pelo novo filho, ninguém notou o erro. Xandoval passou então a ser conhecido como Xandô. Dá pra acreditar?!