Edição n°18
A turbulência que se instalou no ambiente político brasileiro nos últimos meses é de grande proporção, e não oferece evidências de que seu fim esteja próximo. As inquietações de expoentes da vida pública ficam evidentes nos noticiários. Os acontecimentos de cada dia oferecem amplas possibilidades de prognósticos. Até conversas forjadas e gravadas por “amigos”, na tentativa de atenuar as consequências dos seus malfeitos, estão levando tradicionais caciques da política a terem sua liberdade ameaçada pela possibilidade de prisão.
Tudo isto cria uma grande oportunidade para reflexões. Se instabilidades políticas se refletem em outras áreas, como na economia, no desenvolvimento industrial e na geração de empregos, criam também ambiente propício ao aprimoramento da consciência de cidadania. Quando os indivíduos se veem frente a frente com desmandos e abusos por parte daqueles que têm o dever de zelar pelo interesse público, podem sentir-se motivados a refletir sobre o papel que cada um desempenha no exercício do poder, poder este que emana do povo, que o exerce por meio dos seus representantes eleitos, como reza a Constituição Federal, em seu art. 1º, Parágrafo único.
Em outubro deste ano serão realizadas as eleições municipais, que mobilizarão toda a sociedade. Muito embora as eleições municipais possam parecer menos importantes que as eleições estaduais ou federais, são elas que se prestam ao exercício mais direto da cidadania, vez que é no município que as pessoas se aproximam da política. Basta verificar que as possibilidades de acesso a um Vereador e a um Prefeito se dão de forma muito mais efetiva do que seria possível em relação a um Deputado Estadual e a um Governador ou a um Deputado Federal, a um Senador e ao Presidente da República.
É claro que todos são eleitos pelo voto popular, e todos devem trabalhar em prol do bem comum, merecendo o acompanhamento e cobrança que é direito de cada eleitor. Entretanto, a maior distância física entre o eleitor e o centro de poder dos Estados e da União reduz drasticamente as possibilidades de acesso a esses políticos, o que não ocorre em relação aos políticos municipais. Não é outro o motivo que leva também os pretendentes a cargos eletivos nos planos estadual ou federal a buscarem apoio nas cidades, por meio dos Prefeitos e Vereadores.
Isto deve bastar para que se preste maior atenção e se dê maior importância às eleições municipais, pois é por meio delas que o eleitor começa a influir na escolha e eleição de candidatos a cargos eletivos estaduais e federais, com maiores possibilidades de fazer com que os ocupantes desses cargos estejam empenhados na solução dos problemas mais imediatos da coletividade.
Uma novidade importante para as eleições deste ano é que se realizarão sob a nova regra que proíbe contribuições de pessoas jurídicas, o que reduz substancialmente a influência do poder econômico nas campanhas. Isto representa um fato positivo, pois exigirá dos candidatos maior aproximação e exposição perante seus eleitores, o que demandará, pelo menos em teoria, maior grau de transparência e lealdade aos compromissos que venham a assumir.
Entretanto, nada disto surtirá efeito se o eleitor não aprimorar sua capacidade crítica, não se deixando influenciar por promessas milagrosas e inexequíveis apresentadas por muitos candidatos apenas com o objetivo vencer a eleição. Sendo os políticos municipais aqueles que estão mais próximos do povo, devem receber deste a cobrança constante em relação à busca da solução dos problemas da comunidade. Os problemas das cidades estão sempre sujeitos à natural limitação dos recursos necessários para sua solução. Porém, se as possibilidades são limitadas as cobranças devem ser redobradas para que a tendência natural dos políticos à acomodação seja reduzida.
Deste contexto, sobressai a necessária conscientização do eleitor da sua importância para a depuração da política nacional, percebendo que isto se inicia no município com a eleição de candidatos responsáveis e comprometidos. As eleições municipais, portanto, representam grande oportunidade para que o eleitor desenvolva a capacidade crítica, evitando que se transforme em vítima conivente, que é o que resulta do voto irrefletido.