A modernidade corroendo a sensibilidade.

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Edição n°14

Por Dr. João Luiz Barboza

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Muito se houve falar sobre como o tempo parece estar passando mais rápido. Não é raro encontrar pessoas que se dizem surpresas com a própria idade. Será mesmo que tem havido uma aceleração do tempo?

Esta questão do rápido passar do tempo parece estar ligada à velocidade com que se toma conhecimento dos acontecimentos e a necessidade que as pessoas sentem de se manter informadas. Ainda que sejam informações superficiais, pois já não importa como ou por que as coisas acontecem, quais as consequências que geram, mas simplesmente saber o que acontece.

A qualidade da informação já não conta. A ânsia de se manter informado e o volume de informações a que se está exposto conduz à superficialidade do conhecimento e à banalização dos fatos. A reação a um fato de repercussão mundial passa a ser quase a mesma causada por uma banalidade qualquer. A reflexão sobre os acontecimentos fica em segundo plano. Já não importa saber se os fatos são verdadeiros ou se as informações são desprovidas de qualquer fundamento. Com isto a sensibilidade vai sendo corroída.

As pessoas estão movidas pela pressa, pela movimentação frenética que a vida moderna impõe. A própria convivência familiar fica contaminada pela artificialidade da vida moderna. Conversas entre pais e filhos vão perdendo sentido, deixando de ser referência para a formação da moral, que agora tem por base os valores construídos pelo ambiente externo ao lar. O indivíduo vai-se acomodando a tudo, sem a percepção da perda da sua própria referência. Não é uma questão de culpa, é um estilo de vida ao qual ninguém está imune.

Na medida em que aflora a consciência de tais características da vida moderna surgem oportunidades para a busca de comportamentos mais humanos, seja no ambiente familiar, no trabalho, com os amigos… Deixemos um pouco de lado os meios de comunicação instantânea que tanto nos escravizam e prestemos mais atenção a quem está ao nosso lado. Sejamos mais humanos!

Estamos habituados a reagir como se as pessoas estivessem sempre agindo de caso pensado, quando sabemos que não é bem assim. Que tal reagirmos com um simpático aceno ou com um sorriso de compreensão para aquele que de forma imprudente, mas involuntária, nos causou um pequeno transtorno no trânsito? Por que evitarmos pedir desculpas à pessoa que percebemos ter magoado? Por que não desculparmos a quem nos magoa?

É bem possível que aguçando o senso de humanidade e tolerância possamos perceber que não é o tempo que está passando mais depressa, mas que estamos deixando de perceber o nosso próprio tempo.