O SOBREVIVENTE

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Edição n° 13

Por Adailton Ferreira

o-sobrevivente

__Profissão?

__Sobrevivente.

__Como?!… Falo sério, senhor, sua profissão?

__Sobrevivente, já falei.

__Tenha santa paciência… __a funcionária do IBGE, com o questionário do CENSO na mão, falou baixinho, de lado, para si mesma.

__ Tudo bem, moço. O que o senhor faz todos os dias, depois de sair de sua casa? __renovou a pergunta, a pesquisadora, na esperança de que viesse uma resposta séria.

__Bom, faço entrega de jornais pela manhã; à tarde, trabalho como atendente numa lanchonete; à noite, dia sim dia não, faço segurança numa boate do centro… __o homem fez uma pausa, depois continuou igualmente orgulhoso (e sabe-se lá se propositadamente irônico):

__ …Isso, boa parte, somente no meio da semana. Nos finais de semana, no sábado, faço um “bico” num clube de Tênnis como apanhador de bolas; e todo domingo, na feira, dou uma forcinha para o meu vizinho, numa barraca de verduras que ele tem.

A recenseadora observava-lhe, equilibrada na tolerância que a profissão lhe ensinara. Esperou ainda pelas últimas palavras:

__E ando pensando seriamente em conseguir um tempinho para estudar. Nos dias de hoje é preciso, não é mesmo?