O mal da corrupção

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Edição n°13

Por Dr. João Luiz Barboza

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O uso deste valioso espaço tem sido feito para evidenciar, dentre outros temas, como a sociedade se torna dependente de uma confiança natural, do exercício da cidadania, da importância da atividade política e do prestígio que merece o político honesto. Entretanto, há que se reconhecer que o atual nível de corrupção causa desalento a todos que alimentam a crença na honestidade dos políticos. Vale ressaltar que uma das acepções do vocábulo corrupção é putrefação. Portanto, o político corrupto contribui para o apodrecimento da política tornando-a repugnante e, por consequência, contribuindo para o afastamento dela daqueles que procuram exercer seu papel social de forma limpa e honesta.

Os maus exemplos, insista-se, não podem motivar o desânimo e o afastamento da vida pública daqueles que têm a vocação de bem servir à comunidade. Aliás, o desejo dos políticos corruptos é exatamente que deles se afastem aqueles que estão preocupados com o bem comum, pois assim estarão mais à vontade para a prática de atos abjetos.

É importante que se tenha noção da dimensão dos males praticados por aqueles que desviam recursos públicos, independentemente da forma para isto utilizada. O desvio de recursos públicos representa o afastamento das pessoas mais carentes do acesso a recursos básicos necessários para minimizar seus sofrimentos, por exemplo, um medicamento destinado a amenizar a dor e o sofrimento de um infeliz enfermo; o acesso a uma porção de leite destinada a conter a fome de uma criança indefesa; a garantia de acesso a uma vacina destinada a livrar a pessoa ou a própria sociedade de epidemias que, em última análise, poderão atingir o próprio corrupto.

Bastam estas poucas referências para a constatação de que a corrupção é danosa, qualquer que seja o montante dos recursos desviados. Aquele que se apropria indevidamente de recursos públicos se afigura como o mais desprezível dos criminosos, pois seus vícios comprometem a vida das pessoas mais carentes, frequentemente daquelas que lhe dedicaram seus votos exatamente na expectativa de que teriam nele um defensor dos seus direitos.

Muitas vezes se imagina a corrupção como um mal distante. Porém, ela pode estar muito próxima. Na quinta-feira passada, reportagem de televisão exibiu a detenção de um vereador de Carapicuíba e mais quatro pessoas, todos investigados pela prática de organização criminosa e falsidade ideológica. Dentre os delitos investigados estaria a contratação de funcionários fantasmas pelo dito vereador.

É de se imaginar a decepção dos munícipes que eventualmente tenham emprestado sua confiança ao referido político, na esperança de que nele encontrariam o defensor dos seus interesses. Mas mesmo aqueles que nele não votaram hão de se sentir indignados, pois os recursos públicos pertencem a todos os brasileiros, não importando se vinculados à União, a um Estado ou a um Município longínquo. O povo brasileiro forma uma sociedade única e solidária.

Cabe advertir que ocorrências dessa natureza não podem dar razão à falsa ideia de que a política é algo desprezível ou que o voto não tem importância. Ao contrário, devem-se aguçar cada vez mais a capacidade crítica e o esforço na avaliação do caráter daqueles que se oferecem como candidatos a representar a vontade popular na condução da política. Como a política é uma atividade humana estará sempre sujeita à possível presença de agentes de caráter duvidoso, mas o grande desafio é transformar em raridade e exceção o que tem se apresentado como prática corriqueira.