Edição n° 08
__Ei, Moço! Moço! __ o homem tentava avisar o rapaz que estava sentado no banco reservado a pessoas com necessidades especiais. O jovem não escutava nada. A moça, grávida, continuou de pé, o ar frágil, desolado. O jovem só fazia balançar a cabeça (parecia que tentava fazer o cérebro pegar no tranco); estava de olhos fechados; nos ouvidos um enorme fone de ouvidos.
Na rua outra cena: uma mulher atravessava fora da faixa e as mãos e os olhos estavam fixos no celular. Ria; certamente via algum vídeo que estava “bombando” na internet. O carro brecou em cima; o motorista xingou indignado. A Dona, ainda em risos, nem notou o perigo.
Na repartição pública outra cena: um usuário tentava obter informações junto a um funcionário, mas nada (os dedinhos do empregado deslizavam rápidos, viciados, no teclado do celular, que ele sequer procurava esconder).
Num bar de música ao vivo, o cúmulo dos cúmulos: um músico tocando seu instrumento de cordas, em dados momentos, deixava os acordes de lado e (vapt!) corria os dedos no celular que estava sobre um banquinho ao seu lado.
Na rua, outra mulher fazendo a travessia de olhos somente no aparelho.
Para essa não teve jeito, o carro a apanhou e jogou o corpo a uns cinco metros à frente. Não resistiu; foi instantâneo. Para a perícia restou cobrir o corpo e lacrar o celular que (acreditem!) continuou intacto.